terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Tudo por um Like



Vai me desculpar, mas caber em míseros mil caracteres não combina comigo. Sou Monik Catherine, 25 anos fartamente distribuídos em 1,72 m de altura já somados os 8 cm do salto alto. Minha figura faz parar qualquer obra, o trânsito e o escambau. Até as mulheres viram-se, admiradas, para me olhar, sou um escândalo tamanha formosura, falem mal, mas falem de mim. Meus cabelos platinados, meus olhos caprichosamente maquiados e minha boca cor de rosa choque fazem as pessoas prestarem atenção em cada sí-la-ba que pronuncio chegando a fazer biquinho enquanto me ouvem falar em português espalhafatoso. Sou mãe desde os 15 e minha filha Rianna mora com meus pais. Porque meu pai não queria que eu deixasse de estudar e agora faço faculdade de Letras na UFMG, isso mesmo que você ouviu, darling, não é qualquer faculdadezinha não. Uma vez uma colega num trabalho em dupla em sala disse que entregava o exercício para o professor, na verdade, eu soube depois, ela ficou constrangida de corrigir meus tantos erros ortográficos, eu fui a da dupla que redigia, quando terminamos ela disse: pode deixar, eu entrego. Levou o papel e reescreveu tudo. Porque eu escrevi ‘alendo mais’, ao invés de além do mais, ‘Olanda’ e ‘Hirlanda’, ‘postila’ e ‘fenônemo’, ‘encima’ e ‘em baixo’. Soube depois que ela ficou indignada de eu estar na Letras, como é que essa Monik passou na redação? - dizia a torto e a direito pelas minhas costas. É que eu sou safa, e de repente perdi a paciência para essa vida universitária que não acaba nunca. Há dias que não vou à aula, me encontrei como vendedora de cosméticos, tenho sido bem-sucedida, me converti numa vendedora de sucesso, o ofício aumentou minha autoestima e me proporciona uma conta bancária cada dia mais popozuda que nem a titular dela, euzinha aqui, beijinho no ombro. Tornei-me popular, tenho mais de mil seguidores no Instagram, cada vídeo meu ensinando a fazer um olho preto rende 5 mil visualizações. Depois que ganhei da empresa como reconhecimento um I30 cor de rosa, Hyundai, minha querida, meu perfil no Facebook estourou. Coloquei umas calotas bem brilhantes no carro e turbinei o sistema de som, agora soube que dá multa, não importa, tenho dinheiro para pagar. Ninguém me segura, não paro, sou esforçada, difícil não me notar. Dirijo olhando no espelho, não me aguento, minha pele textura camurça pelo pancake, meus cílios postiços, o perfume impregnado no cinto de segurança e os lábios besuntados de gloss. Sempre arrumadíssima, cheirosíssima, gostosíssima! Não sei escrever, é? Pois passei, meu bem, na UFMG! E vendendo maquiagem subi para gerente, sou chefe, treino as meninas novas, tenho meu séquito, sou glamourosa, copiada e até invejada, comprei meu apartamento e um carro para mim quando enjoei do rosa. Viajo ao exterior, nunca tinha ido à Argentina, não tinha nem mala de rodinhas. Agora cada viagem que faço preciso comprar uma nova para carregar tantos presentes e pertences, pois agora meu hobby é usufruir. A faculdade tranquei, o apartamento que comprei é na porta da frente dos meus pais, para poder ver minha filha todos os dias. Olha que belezura, não se parece comigo? Tem meus olhos, repare! Estou num relacionamento sério com o pai dela, mas tá difícil ser fiel, é muito assédio, misericórdia! Este tem sido, sem sombra de dúvidas, o melhor ano da minha vida, o ano da colheita. Axé! 


*Este texto é fruto de um curso de escrita criativa, Terapia da Palavra, cuja tarefa tinha limite de1000 caracteres.


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