sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Oh!



Enquanto teclava se distraía com o brilho da aliança de recém-casada. Já a perdera e a encontrara umas três vezes: no fundo da piscina, no ralo do tanque, debaixo de um vaso de planta da varanda. Nunca gostou de dourado, mas adorava namorar a aliança no seu dedo comprada pelo marido no exato dia do casamento, no Saara, culminando numa Ave Maria às 6h da tarde na saída da loja, amém! Quem te viu, quem te vê, mas uma fofíssima prova de amor, oh!

Esta noite ia preparar o prato predileto dele: filet à parmegiana. Nessa época ainda não sabia que ele não era de comer carne à noite. No mercado, por mais uma vez perdeu a aliança enquanto afundava suas mãos nos tomates. De tanto sexo, emagreceu, a aliança folgava! Também tinha olheiras. Mesmo mobilizando os funcionários, voltou para casa com o anular desnudo. O marido distraído nem se deu conta e ela também esqueceu do assunto até ligarem do supermercado para avisar que tinham encontrado a dita cuja.

Não gostava de olhar seu dedo vazio com aquela marca branca. Queria logo sua aliança de volta: aquele símbolo de união, aquela mostra de status escancarada, aquela falsa proteção estampada contra abordagens indesejáveis. Uma vez recuperada, deu vários beijinhos nela e jurou que não seria mais tão relapsa. Gostava tanto de tê-la ali aderida, como parte de seu corpo e de uma percepção constante de que a vida é mesmo uma metamorfose ambulante!