terça-feira, 10 de novembro de 2009

Arreda!!



mineira no rio de janeiro, a menina que adora tocar samba, côco e ciranda no pandeiro está na praia. é janeiro, el cielo despejado na praia lotada de ipanema . helicópteros sobrevoam banhistas imprudentes que se jogam, mesmo diante da bandeirinha vermelha fincada na areia anunciando perigo. a praia mais parece um clube.

a mineirinha comendo biscoito globo doce, de sua cadeira azul novinha em folha que faz conjunto com o guarda-sol de mesma cor, vê sua amiga a hooooras na beira do mar olhando a filha pegando jacaré. sugere ao namorado carioca que toma mate com limão:

- gatinho, a gente podia ir lá ficar um pouquinho olhando a margarida, pra daisy poder vir tomar um solzinho hein!?

- já é!

e vão. e querem liberar a amiga, mas esta diz:

- ah o problema é margarida que está lááááá no fundo.

a mineira diz à ela que isso é fácil de resolver. põe as mãos em volta da boca e grita em direção à menina:

- MARGARIDAAAAAA, ARREDA PRA CÁ!!!!

o rio de janeiro, que continua lindo, inteirinho, olha pra ela e daisy dá voltinhas de tanto rir.

é só mineiro que diz arreda?

enquanto isso, hortência, nas minas gerais, chora. está por demais preocupada com os problemas da empresa e a terapia 3 vezes por semana parece não bastar. tem uma reunião marcada às 8h da manhã, com um representante no centro da cidade. chora enquanto toma sem vontade seu suco de laranja de caixinha e bolo com cotagge. ainda está chorando de soluçar, coitada, quando desce as escadas e entra no carro. ela é um rio. chega ao local da reunião e enxuga as lágrimas com a flanela de desembaçar o vidro do carro em dias de chuva, e sobe o elevador segurando o pranto. toca a campainha com dedos trêmulos.

eis que um charmoso sessentão de cabelos grisalhos abre a porta e a luz que vem de seu minúsculo escritório de 20m2 no 13º andar de um prédio antigo, lhe faz franzir seus olhinhos sensíveis. 13 sempre foi seu número da sorte e imediatamente ela pensa:

- nó! como diria minha mãe, que pão!

além disso, ele é tão acolhedor, tão gentil, um príncipe que puxa-lhe a cadeira pra ela se sentar. ele tem um cheirinho tão bom e os olhos e a compreensão que lhe lembram um professor que tivera na faculdade que pertencia à linha da psicologia humanista, isto é, soava como a empatia personificada, ou melhor ainda, era um consolo de homem!!

não demora muito então para tornar-se rio de novo. são 8h da manhã e aflito e sedutor o estranho diz:

- calma, vamos tomar um vinho. o vinho acalma, adormece as preocupações.

“caraca!”, ela ia pensar se fosse carioca, enquanto ele vai buscar a garrafa. e ainda, “ele tem a idade do meu pai!”, quando volta e demora para trazer as taças.

tomaram vinho de 8 da manhã às 9 da noite. ficaram bêbados. não economizaram palavras, vomitaram frases, brindaram inúmeras vezes, disseram sentimentos, nomearam sensações, trocaram remorsos, expuseram quase todas suas vontades, escancararam os sonhos. não foi clichê nem se encostaram. riam bem mais que choravam. choravam de rir.

durou só aquele dia inteiro. na sequência, se arredaram.

o verbo arredar existe?

e voltando à praia.. ô trem bom demais da conta esse rio de janeiro sô.

hã?