sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Se








se naquele samba você dissesse
que eu tinha corpo de bailarina.
se na fila do mercado eu tivesse te notado,
e sendo a sua fila mais rápida do que a minha,
você estivesse lá fora e dissesse: ‘tava’ te esperando.
se você ousasse!


se você tivesse parado com seu calhambeque,
para trocar o pneu do meu cadillac.
se me convidasse para jantar
os peixes que pescou durante o dia.
se você tivesse topado o blind date.
se você se atrevesse!


se tivéssemos dividido uma maçã,
se eu fizesse parte do seu show,
se me amasse, me amassasse,
si hablaras español.


se me escrevesse uma canção,
se fosse mais determinado
ou se quem sabe eu te sorrisse!
ah, se eu te facilitasse o caminho!


se você fizesse graça!
uma surpresa na caixa de correio,
ou uma conchinha debaixo da porta.
se fantasiado de gorila pra chamar a minha atenção.
se tivesse dito que me ensinava,
quando eu recusei o convite
para dançar aquele tango.
ah, se você insistisse!


se tivesse me abraçado no táxi da volta,
e me lascasse um beijo para ver passar o calor ou o frio
que eu disse que estava sentindo.
se concordássemos em gênero, número e grau.
ah, se eu fosse valente!


se na ciclovia, bonito como é,
me pedisse uma disputa.
se trocasse de elevador só pra subir comigo,
se você me desse alguma dica!
se pedisse minha opinião pra ficar,
ou me dito pra não ir,
me dado carona no guarda-chuva,
ganhado no cassino e me pedido pra casar.
se eu soubesse como era fácil te agradar!

se tivesse jorrado palavras ao vento elétrico dos bits
ou puxado minha mão, menos tímido do que eu.
se tivesse me arrastado, eu me deixava levar,
como alguém em direção ao mar.

se você viesse com conversa mole, e eu te desse mole.
ah, se!
só teria meu beijo contido até te dizer que queria te beijar.
ou de nada valeria.
eu riria com você de tudo no dia seguinte,
no chão,
tomando vinho comprado no supermercado.