segunda-feira, 29 de junho de 2020

Carolina e os aeroportos





Me desculpem, mas eu peguei um avião. Estava com muita saudade. Tenho uma relação afetiva com aeroportos: desde a infância, por anos, voando Bagdá-Rio. Estaria contagiada pela felicidade da minha mãe? Eu gostava do cheiro de cigarro no ar condicionado, do barulho do salto alto das mulheres elegantes tocando o assoalho brilhante, tão brilhante quanto os olhos maquiados das arabicas. Uma delas apertou com tanta vontade as bochechas da minha melhor amiga loira de olhos azuis, que a marca das unhas em sua pele rosada foi junto a bordo. Trabalho para viajar, senão nem me daria ao trabalho, viveria de bicos. Me senti mal viajando na pandemia, mas o prazer de ver as nuvens me trouxe novamente à vida. Estava precisando.