quarta-feira, 13 de maio de 2015

Que lombo!



O marido não era fanático por coisa nenhuma, a não ser pela bunda da mulher. não ligava pra futebol, cerveja, amigos, videogame… mas tinha tara pela bunda de sua mulher. quer sorte maior? e ele era carnívoro mesmo!
Faziam uma bela dupla na cozinha: ambos eram bons de fogão. ele, especialista em risoto, ela em qualquer coisa que você imaginar.
O primeiro grande choque do casamento veio numa noite de dezembro, ou um mês após o enlace. é, bem cedo. ela saiu faminta do trabalho, estacionou o carro no Carrefour e em meia hora já tinha tudo que precisava: um quilo e oitocentos gramas de uma bela peça de lombo.
Enquanto bateu a porta de casa, jogou pra cima os sapatos de salto alto, arrancou o sutiã, lavou as mãos e partiu, aguada e apressada, para a cozinha.
Sorrindo e satisfeita pela sua eficiência de ter comprado uma carne tão bonita e suculenta, temperou-a com ervas perfumadas e azeites puros e pensou: ‘temos jantar pra uma semana!’
O marido chegou, deu-lhe um beijo e elogiou o cheiro bom da comida. entrou, colocou umas bermudas, abriu a garrafa de vinho e perguntou se podia ajudar. ela agradeceu, pois já estava tudo pronto. ele colocou a mesa e ficou de lavar a louça. beberam e comeram.
No dia seguinte, ela vai à natação depois do trabalho e chega em casa ávida de abocanhar aquele lombo. o marido já estava em casa, a luz da sala estava acesa, ela ouvia o barulho da ducha. joga a bolsa pro alto, lava bem as mãos e se dirige afoita à cozinha. a pia cheia de louça, engraçado, a vasilha onde assara o lombo na noite anterior estava com água e detergente. um medo toma conta dela: ‘será que acabou?’ não, o marido não seria tão cruel. abre então, incrédula, a geladeira e sua raiva cresce à medida que vasculha e não encontra rastros do jantar. com fogo nos olhos vai ao banheiro perguntar pro marido ‘cadê o lombo?’, ele, surpreso, responde: ‘uai, comi!’
E aí vem o primeiro choque cultural do casal. ela o xingou de egoísta pra baixo, disse que na casa dela nunca foi assim, que as pessoas pensavam nas outras, que compartilhavam, que não viviam sós. e chorando e gritando, insultou-o de ogro por ter devorado sozinho um quilo de carne. um horror, um horror! tadinhos.
Desde então ela passou a comprar maiores quantidades no mercado e o marido começou a entender que casar é ratear.
Deleites e desvarios.
* Este post faz parte de meu outro blog: https://acabodemecasar.wordpress.com/

Um comentário:

  1. Casamento é assim mesmo... lendo seu blog pra ver me apresso em aprender alguma coisa #noiva

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