segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Retratista e a Paixão à Primeira Vista*



Começo

“Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino.”
Cora Coralina

Emmanuelle Cienfuegos, a jovem parisiense universitária, está de folga. É janeiro de 2004, tem férias e grana curta, assim que não vai viajar neste inverno. Contra sua vontade, mas nem tanta, permanece em Nerja, el pueblo español donde vive. Um balneário de casinhas brancas no sul da Espanha, cuja população triplica no verão, que na Europa é em agosto.

Sexta-feira passada, naquele bar underground onde adora ir quando quer se acabar, cruzou, quando descia as escadas (para o inferno), com um muchacho de cabelo vermelho. Ele estava indo embora já, mas foi suficiente para um relance: lembrou-se dele há dois anos atrás, no cinema. Sabe até a sessão, um filme de Truffaut, em preto e branco. O menino de cabelo vermelho, chamou-lhe a atenção. Naquele dia e no seguinte, ficou vidrada nele. Depois esqueceu.

Mas de novo, que coincidência, ele atravessa o seu caminho. Vê seu nome no El País. Lê no jornal que hoje abre uma exposição sua. Descobre seu nome, é Pierre, Pierre Chateau Blanc. Parece brincadeira, mas daí ela acha sua foto num site de Internet. E pelo site, seu e-mail. Com este nome, ele deve ser francês que nem ela.

À toa que estava, com as mãos e a cabeça vazia, eis que lhe vem C.L. na cabeça: inventa um e-mail e cria um nome para comunicar-se com ele.

As cortinas do quarto de Emmanuelle são verdes e vermelhas. Gosta de cores, cores de Almodóvar. Veste-se de petit poá e óculos de lentes grandes. Compra mais livros do que lê e adora echar una siesta no sofá da sala da casa de sua mãe.

De Pierre ainda não sabe nada. Só do que vê. Sim, tinha muito pra ver. Por isso, inventa três linhas para ele. Acha graça, envia, esquece.

Ingenuinamente esquece.

Passa um par de semanas. Opa! Emmanuelle se lembra de Pierre Chateau Blanc e do e-mail inventado. Digita o nome, Amelie, mas tem certa dificuldade para recordar a senha... ah sim, senha: vcehmtolindo. Ele diria mais tarde: esse nome que você escolheu é legal! E ela lhe perguntaria: e a senha, você viu? Ele: aí você pegou pesado. Ela acessa sua conta. Está atônita. El muchacho de cabelo vermelho havia respondido:

ESTAVA VIAJANDO. ACABEI DE CHEGAR. IDENTIFIQUE-SE.

Seria um começo de futuro longo e linhas tortas.


Meio

“Porque para te escrever, eu me perfumo toda”.
Clarice Lispector


Emmanuelle que não só no nome, tem fogo correndo nas veias, engata com o desconhecido uma conversa virtual que rende.

Ele está tão curioso. Ela sabe quem ele é, ele nem ideia de quem ela seja. O momento é ideal para ambos, por isto, a historinha flui, como geléia de framboesa, a preferida de sua futura sogra.

A vontade transborda. Ele começa a chama-la de Audrey, não mais Amelie. Se divertem e ele indaga-lhe como se risse: O que você vai fazer se me vir no El Caminito? Vai se dirigir à minha mesa, esticar o braço, apertar minha mão e dizer: Oi, Pierre. Sou a Audrey”?

Já não se agüentavam. Situação s-u-r-r-e-a-l. Ele lhe manda seu número de telefone e diz: Estarei o dia inteiro ao lado do telefone. Me liga.

Enquanto dirige, ela liga. No meio de Here Comes your Man, escuta a voz dele. Congela, desliga. Quase o convida pra uma festa. Não vai à festa e descobre no dia seguinte que ele foi. El mundo es un pañuelo, conclui.

Coragem lhe falta. Corajoso é ele de topar encontrar-se com ela. Dias depois ela liga. Eles combinam de se encontrar finalmente. Ele pergunta: Audrey, você gostou da minha voz? A voz dele é maravilhosa, e mais tarde descobriria suas mãos.

Com jeito simples de coisa boba ela se veste para encontrar com ele, ao mesmo tempo que arruma sua mochila. Aquele dia iria para Sierra Nevada esquiar com as amigas. As férias já estavam acabando.

O coração dele é montanha-russa. Já ela, vai com ar leve e sobe tranqüila os três degraus do café onde combinaram de encontrar-se, enquanto pensa: ¡jo!, este blind date daria um belo tema pra uma redação de inglês.

Assim que a vê, Pierre reconhece-a no ato. Nerja es un pueblo pequeño, assim que já a havia visto antes. Seu rosto, além de familiar, e ela inteira, le gusta muchísimo. Sorri como se já a conhecesse de outros carnavais. E respira pausadamente, aliviado por não ter embarcado numa furada! Pelo menos não até agora.

Ele é retratista, como diria sua avó. Sobre a mesa do café, entre as revistas de fotografia, está uma câmera antiga dele, Olga se chama, que ela pensa ser de brinquedo. Faz-lhe uma foto, que mais tarde, enviaria dizendo: eu já sabia que você era linda.

Eles conversam muito, riem muito, riem da situação. Veem fotografias e bebem café au chocolat, a bebida predileta de Emmanuelle.

Ela sente um calor! Ele não perde a deixa: Deixa eu te dar um beijo pra ver se passa. ¡OLÉ!

As amigas vão buscá-la. Ainda não é verão, mas não interessa, nos cumes de Granada, sempre há neve. Pierre a acompanha. Ela lamenta ter que ir. Vai completamente apaixonada dentro do carro no burburinho da conversa das meninas e é despertada por uma mensagem que chega do seu mais recente objeto de desejo. É seu Pierre Chateau Blanc: Esqueci de dizer, você é linda.

Ai, ai... A vida não poderia ser mais cor-de-rosa para Emmanuelle.


Fim

“O amor pulou o muro
O amor subiu na árvore
Em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou...”
Carlos Drummond de Andrade

Emmanuelle Cienfuegos e suas amigas universitárias esquiam muito em Sierra Nevada e se divertem horrores. Ela quase não se lembra do muchacho de cabelo vermelho. Tiene la cabeza llena de pájaros e quase não distingue se foi real.

Mas quando volta às aulas, abre seu e-mail e lá tem um recado de Pierre: quero te ver de novo. Ela também queria vê-lo: ainda quero te ver muitas vezes.

Eles namoram. Tudo dá certo. Ele enche sua casa de flores. Ela passa muito tempo em seu sofá. Ele trabalha muito em casa. Bebem muitas garrafas de vinho rosé.

Ela cuida de seu gato enquanto ele viaja. Ele traz-lhe presentes originais e mói o café que serve pra ela em xícara de barro.

Eles vão esquiar em Granada, viajam de carro por Andalucía e pelo sul da França.

Ela chora no travesseiro. As amigas se surpreendem, o nariz dela está sempre vermelhinho. Ela só faz comprar lenços de papel e chorar.

Pierre não tem sentimentos.

Emmanuelle não se reconhece.

Pierre troca Emmanuelle por outra Emmanuelle e logo por Dominique.

Emmanuelle não consegue estar no mesmo lugar que Pierre. Seu coraçãozinho está débil.

O amor se estrepou.

Pierre continua sua vida.

Emmanuelle está mais para Sinfuegos.

A fila parece que só anda para Pierre.


“... daqui estou vendo o sangue
Que corre do corpo andrógino
Essa ferida, meu bem,
Às vezes não sara nunca
Às vezes sara amanhã.”
Carlos Drummond de Andrade.

Que tédio!!

*Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a vida real será mera coincidência.
.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sensações.




semana passada vi no cinema o filme novo do almodóvar, "los abrazos rotos" (em português "abraços partidos"). não sei se consigo explicar a sensação do que é você amar um diretor de cinema e ficar contando os dias para a estreia de um novo filme seu. de sentir o friozinho na barriga ali sentada na poltrona, da alegria mesmo, da deliciosa expectativa de ver as cores fortes dele em especial e de suas músicas começando na tela. do gozo que é desfrutar cada cena dele. suas cores, seu cenário, as roupas exageradas, o roteiro, as canções, tudo te invade, te enche, te completa. você só quer estar ali. você agradece. ai, é um consolo.

na dor pede-se bálsamo, na inquietação ou na ansiedade, o quê? uns tomam calmante, outros gritam no travesseiro, alguns precisam ir dar uma volta, ficar sozinhos, comer, encher a cara, sei lá! meu remédio sempre foi ir ao cinema. nas épocas de adolescência quando tinha prova de física, química que me deixavam tensa, eu corria pro cinema. na faculdade, em tempos tranquilos, quando podia pegar a sessão das duas da tarde, em dias de prova de psicofisiologia, neuroanatomia, que me queimavam todos os neurônios... para aquietar, cinema!! saía leve.

tem umas sensações que não queremos sentir. medo, por exemplo. medo do novo. como a sensação na sala de espera na primeira sessão de terapia. você pensa: ai, eu queria tanto estar no dentista! o medo de se expor te congela. medo de ouvir não. medo de chegar num lugar novo, vontade de ficar, de não ir. o medo quando passa pelo existencial, te move, faz bem. desadaptar-se, sair do quentinho, sempre gera desconforto, claro, mas acomodar de novo, ao novo, traz alívio. sensação boa de novo. o novo, o diferente.

só uma pausa, pode ser? outro dia, no meio de uma discussão me disseram isso: wim wenders e aprendenders. eu tive que me segurar pra não rir. adorei!!

esse impacto fulminante e divino que o cinema me causa vem também de bertolucci, woody allen, wim wenders, wong kar-wai... é tão básico, mas numa entrevista com david lynch, na pergunta do repórter sobre o que ele teria a dizer sobre os comentários de gente que diz que "não dá para entender nada dos seus filmes", ele responde (obviamente) mais ou menos assim: a história não interessa, o que importa pra mim é que o espectador desfrute de cada cena.

é isso.cinema pra mim é isso, conjunto de sensações muito bem-vindas.

o difícil é a arte de provocar esse deslumbre no espectador, da imagem de tocar, te envolver, te apaixonar. mas estes daí de cima conseguem com tanta facilidade... ¡OYE! almodóvar me pone la piel de gallina.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Pedido de Namoro do Século XXI

.
se você me quiser me assuma.
se você me quiser venha com tudo.
se você me quiser não faça como tem feito.
diga que me ama.
diga que me quer
em todos os momentos.

não diga apenas que sou especial
isso não é nada.
não diga que estou no altar
apenas idolatramos quem está no altar
nunca o temos.

se você me quiser sinta saudades frequentemente
não me ligue de vez em quando
ou só de madrugada.
me leve na sua mala,
me apresente aos seus amigos,
me inclua em suas fotos.

nem sempre digo tudo,
nem me satisfaço apenas dormindo no seu sofá,
mas sinto intensamente.

se você me quiser resolva logo
liste suas prioridades
porque já vou quase desistindo.
se você me quiser me valorize
assim como eu ainda insisto,
por achar que você vale a pena.

se você me quer
compartilhe da minha angústia.
se diz que gosta de ficar comigo
então fique.

se realmente, depois de tudo, você não me quiser,
diga simplesmente adeus.
mas se realmente você me quiser
tente.
me ajude a ser uma mulher feliz.

quem disse que seria fácil?
.

MARQUITO!!



                                                        “Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã”...
(Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt)

Mês passado perdemos o Marcos. Ele era o mais velho da nossa turma de Psicologia, o único aluno homem dos formandos de junho/2002. O Marcos era promotor aposentado, fazia Psicologia por hobby, e era o mais engraçado da turma. Não de engraçadinho forçado, ele era naturalmente o mais divertido de todos os tempos.

O Marcos tinha barba grisalha e cara de bravo, mas era pura festa. Por causa desta falsa fachada de cara sério, era ele quem dava trote nos calouros. No 1ºdia de aula, dirigia-se à sala do 1º período de terno cinza e gravata vermelha. Já não havia mais espaço para escrever no quadro e ele falava sem parar pr´aquela sala repleta de recém chegados de mais um rito de passagem, ávidos por conhecimento novo. Era o professor mais formal de Filosofia e dava medo. Era combinado que um de nós, infiltrados ali como repetentes daquela matéria difícil, levantasse seu dedo tímido com a pergunta que não queria calar: Professor Marcos, esta bibliografia já existe em português? E ele, fingindo-se déspota, respondia malvado: Não, só em inglês.

Quem não se lembra das bolinhas de chicletes que ele colava na parede colecionando nossos nomes? Quem não morre de rir lembrando dele desligando o bebedouro pra ficar de longe observando os alunos apertando insistentemente um botão que não saía água, pra depois mandar um bilhete no meio da aula de Psicometria: “ Fui tomar água. Demorei a voltar porque fiz uma experiência interessante. Fechei a torneira do bebedouro e fiquei observando o comportamento dos usuários. Frustração expressa na repetição do aperto do botão. Ninguém se lembrou de abrir a torneira”.

Lembro de uma cena bizarra que ele fazia num repente no meio de alguma aula chata. Ele, sentado lá na frente, virava-se de costas, meio contorcido, numa cena bem exdrúxula, de modo a segurar com os braços cruzados o encosto da cadeira, e virava o olho, numa careta de vesgo que matava a turma do fundão de susto e de riso incontido.

Falar do Marcos é lembrar dos bombons que ele distribuía na sala quando sobravam caixas de chocolate dos churrascos em sua casa azul no Belvedere. Ele também nos presenteava com fotos que tirava da gente em nossos melhores momentos descontraídos, todas com dedicatórias que ele escrevia na hora.

Uma vez ele me disse na cantina: Carol, nunca te vi com outro penteado. Que dia vou ve-la com um corte de cabelo diferente? Realmente, durante muito tempo tive aquele cabelo de mãe-joana, mas o que ele tinha a ver com isso?? O que importa é que tudo que vinha dele era doce. Ele participava de tudo, sabia de tudo, tinha sempre uma opinião e uma solução pra tudo. Até tirar carteira era motivo para bilhetinho: “ ... venho cumprimentá-la pelo sucesso alcançado no teste do Detran... Na oportunidade, ofereço-me, desde logo, como seu passageiro en um eventual passeio. Atenciosamente, seu colega, Marcos.”

Não te vejo, nem te escuto
O meu samba está de luto
Meu violão vai soluçar

(Noel Rosa)

Mesmo há tanto tempo sem vê-lo, por que a morte é sempre tão cruel?
Ficam aí nossas saudades e somente recordações lindas dele.
Marquito!!! Nosso amor por você é unânime, vamos lembrar sempre de você sorrindo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

morro disso



contando os dias.

pra tomar busca vida na cachaçaria com zezé e carlão
pra andar debaixo das luminárias vermelhas do lagoa
tomar café da manhã no banco kamasutra do la caraiva blu
escutar chorinho de manhãzinha no cará café
de comer brigadeiro na marina
de pegar no colo maria, serena, iara, dedé, mi e pepeu.
comer pastel de goiabada no pará
tomar caipirinha com os cajus que o maycon disse que congelou pra mim
atravessar o beco de chão rosa pra ouvir a música da hermínia.
ir de buggy pra corumbau e estender a canga na falésia pro espelho
conversar com sr. satu
dividir a pista do ouriço com a duca dançar forró com o leôncio
tomar muita cervejinha com muitos amigos
atravessar a barra na canoa do tazinho
comer rezando acarajé da d. izabel
água de coco no bar da praia e praia na frente do coco
nascer do sol no kuki
as rodas de capoeira do silmar
comer bolo marrudo no mangaba e filet mignon da cineka
enjoar de moqueca e ariacó assado na casa dos outros
ver leuzinha, jô, lu e nil
escutar pelo muro a voz do bené
dos pratos enfeitados com manjericão
das partidas de gamão
escutar triângulo caraíva no pelé
rir dos paga-lanches na padaria do nem
emendar noite no dia
a lua cheia de caraíva fechando o ano.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón



atualmente meninas bonitas têm povoado meu cotidiano. personagens novas e novinhas, bonitinhas e cuidadosas. vanessa, taís, larissa... as veterinárias de meus filhotes felinos. eu, mãe de primeira viagem que sou, tenho o número delas também na gaveta do trabalho e em ímã de geladeira. eu, mãe solteira que sou, encontro tempo entre "un subtítulo y otro" para passear com meu Bahia e minha Dolores, no calçadão de copacabana. quero filhotes sociáveis, doces e rueiros.

a paisagem é outra. das ruas vejo outras bandeiras na varanda dos prédios. os gatos têm me acompanhado a bares com telão na esquininha de casa, onde o assunto da mesa no burburinho sagrado das quartas-feiras, é futebol. aqui no rio de janeiro, o brasileiro parece gostar mais ainda do tema.

rodeada por amigas fanáticas, uma flamenguista, outra tricolor, e ainda um chefe que perde o sono pelo botafogo, eu que sempre corri de TV em bar, jamais imaginaria que participaria destas rodas. aqui se faz aqui se paga, é fato e eu curto.

é tanta paixão, essa do brasileiro pelo futebol (ou será a torcida flamenguista que causa tanta euforia?) que no avião que sobrevoava o planalto central ontem, até o piloto avisou: a quem lhe interessar, o resultado do jogo foi 2x1 para o Flamengo. e 20 minutos mais tarde: a quem lhe interessar, 2x0 para o Fluminense. eu que não sou nem um nem outro, sorri pela vitória dos cariocas. chegando no rio, era tudo preto e vermelho, até o chão.

mesmo assim meu coração ainda canta: eu sou Cruzeiro, meu pai. enquanto vejo filme com ar condicionado com o Bahia de um lado e Dolores de outro.

no silêncio justo de minha casa, não me falta nada.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

promessa de romance sem água com açúcar


ela é dramaturga.

ele escala montanhas.

ambos têm trabalhos que não lhes prendem a lugar algum.

compartilham dos mesmos valores. são desapegados e curiosos.

algum dia tiveram que dividir a mesma cama num albergue de algum lugar do mundo.

e assim se conheceram.

...

ele lhe escreve:

- quero um cantinho na cama.

ela escreve peças de teatro e às vezes, crônicas, então fica em dúvida: será que ele quer um cantinho ou um continho na cama??

confusa, responde perguntando. ele, genuinamente responde:

- uai, pode ser então um continho no cantinho da cama?

fofo!!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Arreda!!



mineira no rio de janeiro, a menina que adora tocar samba, côco e ciranda no pandeiro está na praia. é janeiro, el cielo despejado na praia lotada de ipanema . helicópteros sobrevoam banhistas imprudentes que se jogam, mesmo diante da bandeirinha vermelha fincada na areia anunciando perigo. a praia mais parece um clube.

a mineirinha comendo biscoito globo doce, de sua cadeira azul novinha em folha que faz conjunto com o guarda-sol de mesma cor, vê sua amiga a hooooras na beira do mar olhando a filha pegando jacaré. sugere ao namorado carioca que toma mate com limão:

- gatinho, a gente podia ir lá ficar um pouquinho olhando a margarida, pra daisy poder vir tomar um solzinho hein!?

- já é!

e vão. e querem liberar a amiga, mas esta diz:

- ah o problema é margarida que está lááááá no fundo.

a mineira diz à ela que isso é fácil de resolver. põe as mãos em volta da boca e grita em direção à menina:

- MARGARIDAAAAAA, ARREDA PRA CÁ!!!!

o rio de janeiro, que continua lindo, inteirinho, olha pra ela e daisy dá voltinhas de tanto rir.

é só mineiro que diz arreda?

enquanto isso, hortência, nas minas gerais, chora. está por demais preocupada com os problemas da empresa e a terapia 3 vezes por semana parece não bastar. tem uma reunião marcada às 8h da manhã, com um representante no centro da cidade. chora enquanto toma sem vontade seu suco de laranja de caixinha e bolo com cotagge. ainda está chorando de soluçar, coitada, quando desce as escadas e entra no carro. ela é um rio. chega ao local da reunião e enxuga as lágrimas com a flanela de desembaçar o vidro do carro em dias de chuva, e sobe o elevador segurando o pranto. toca a campainha com dedos trêmulos.

eis que um charmoso sessentão de cabelos grisalhos abre a porta e a luz que vem de seu minúsculo escritório de 20m2 no 13º andar de um prédio antigo, lhe faz franzir seus olhinhos sensíveis. 13 sempre foi seu número da sorte e imediatamente ela pensa:

- nó! como diria minha mãe, que pão!

além disso, ele é tão acolhedor, tão gentil, um príncipe que puxa-lhe a cadeira pra ela se sentar. ele tem um cheirinho tão bom e os olhos e a compreensão que lhe lembram um professor que tivera na faculdade que pertencia à linha da psicologia humanista, isto é, soava como a empatia personificada, ou melhor ainda, era um consolo de homem!!

não demora muito então para tornar-se rio de novo. são 8h da manhã e aflito e sedutor o estranho diz:

- calma, vamos tomar um vinho. o vinho acalma, adormece as preocupações.

“caraca!”, ela ia pensar se fosse carioca, enquanto ele vai buscar a garrafa. e ainda, “ele tem a idade do meu pai!”, quando volta e demora para trazer as taças.

tomaram vinho de 8 da manhã às 9 da noite. ficaram bêbados. não economizaram palavras, vomitaram frases, brindaram inúmeras vezes, disseram sentimentos, nomearam sensações, trocaram remorsos, expuseram quase todas suas vontades, escancararam os sonhos. não foi clichê nem se encostaram. riam bem mais que choravam. choravam de rir.

durou só aquele dia inteiro. na sequência, se arredaram.

o verbo arredar existe?

e voltando à praia.. ô trem bom demais da conta esse rio de janeiro sô.

hã?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

rio 40º



ontem o caraivana (foto) veio de novo tocar nesse rio de janeiro cálido. nos dar o ar da graça e alegria de vê-los e escutar seus chorinhos. cogitamos a ideia de montar um fã clube já que estamos sempre na primeira fila!! é que eles trazem o gostinho de caraíva além de tudo. como diz sempre billy joe (percussionista), no seu sotaque bahiano gingado e sorrisinho apaixonante: "ai, delícia!"
www.caraivana.com

terça-feira, 27 de outubro de 2009

a realidade de agora:


como canta o Triângulo Caraíva, de agora em diante...

se a ponte aérea fosse baixinho
todo fim de semana
eu ia com meu benzinho
pra praia de Copacabana
e lá na Barra da Tijuca
agarradinho no forró
na vida eu não quero luxo
da vida eu quero o melhor
sou mar, sou rio
sou mar, mar azul

(Ponte Aérea, composição de Amorim Neto)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

um capítulo: adeus céu cor-de-rosa

caraíva, 24 de julho de 2009:

"pra te morder e pra soprar, afim de que não te doa demais, já que tenho que te doer, meu amor"
C. Lispector 

essa semana foi toda de despedidas. foi a última segunda-feira, a última terça-feira,... e hoje é o sábado, ou por fim, o último dia. amanhã piso na cidade maravilhosa. todo mundo aqui anda dizendo que há muitos anos não fazia um julho tão bonito, tem sido o mais ensolarado de todos os tempos. pena que ontem, na minha última sexta-feira, o sanfoneiro do Triângulo Caraíva não conseguiu chegar a tempo e o show no Ouriço foi cancelado. já estava imaginando Billy Joe cantando ‘Meninos' pra despedir com chave de ouro! amanhã espero ir  emendada pra Porto Seguro no ônibus das seis da matina. tem despedida com lasanha no Lagoa e depois esbagaçar no Pelé até de manhã. só faltou a ponta do Corumbau, já despedi do Espelho, do Satu, da Prainha, Pedras do Nego. hoje é dia de sair de casa em casa dando tchau pros mais amados. incrível foi o céu do Satu voltando do Espelho. estava inteiro e imenso cor-de-rosa. segundo o Miguel, que estava comigo na hora, dava pra ver como a terra era redonda. as nuvens emendavam no mar.

hoje acordei mais cedo e estou com porta e janelas abertas daqui da minha casa (ou a casa do Guilherme) no La Caraiva Blu. ninguém me vê, fico do alto de uma duna. o céu está azul, tem muito sol e uma briiiiiisa... tudo é perfeito! só tem eu aqui, vizinho nenhum, é o melhor lugar de Caraíva! ontem foi minha última noite nesta casa, agora me despeço dessa duna de areia com degrauzinhos de madeira, desse monte de árvores, desse lugar onde eu também fui muito feliz!

e só pra terminar este último capitulinho, nessa última semana aconteceu comigo, o que aconteceu com o personagem do Woody Allen em "Descontruindo Harry". lembra que ele começa a enxergar tudo embaçado? não era nada orgânico, não tinha diagnóstico nem remédio, ele estava apenas desenvolvendo um sintoma. acreditem, essa semana não enxerguei nada! tive pela primeira vez na vida, conjuntivite. passei alguns dias parecendo que chorava. e várias pessoas disseram que assim como no filme, devia ser psicológico, algo que eu não queria ver, excessos na glândula lacrimal. conjuntivite dura uns 3 dias, mas a minha cegueira não passa! até acredito porque eu jurava que estava super tranquila de ir embora. ahãm!

amanhã... rio de janeiro.

FIM
(aquarela de Sophie Alves - Lapa -Rio de Janeiro)



um capítulo: se choro ou se sorrio


Lua caraivática

caraíva, 8 de julho de 2009:

chegando da aula na Nova Caraíva, do meio do rio escutava música que vinha do Bar do Porto. resolvo dar uma entradinha pra dar oi pro Romário (que faz a melhor pizza de chocolate com banana do mundo!) e ver quem estava cantando. acabei ficando durante três cervejas. encontrei o Guilherme, meu amigo dono do La Caraiva Blu, onde moro. ele chegou hoje. estes dias estamos recebendo os amigos. é julho, Caraíva como uma grande casa. cada dia chegando alguém. não dá pra explicar, é absolutamente fantástico. é julho e Caraíva nunca esteve tão colorida. amanhã abre a Convenção de Malabares, a já começa a pulsar de gente. e logo logo vamos ver essas pessoas soltando fogo pela boca. eu que fiquei ali um mês reinando sozinha no La Caraiva Blu, hoje tenho companhia. um amigo do Ricardo (o outro dono) que está ficando na casa dele disse que eu era mais famosa que eles. quando lhe perguntaram onde estava ficando, respondeu: ali, na casa do Ricardo. Ricardo? ali atrás do Raimundão. ah sim na casa da Carol. rsrs. gosto tanto daqui, mas a novidade mais fresca e crua, e cruel, por que não, é que estou indo embora. recebi uma proposta irrecusável pra ir logo pra cidade mais que maravilhosa, como disse meu amigo Jairo. por causa disso tive ataque de choro imediato no beco mas que passou logo porque de repente fiquei animada com todo aquele burburinho cultural que eu teria de volta ao meu redor, e a praia que também continuaria lá. mas agora de novo desabo, hesito e sofro. nos dias de forró, quando começo a escutar aquelas musiquinhas, choro junto com a sanfona. minhas amigas psi não acham que isso soa histérico? é tão difícil se adaptar e quando você se adapta e conquista, você de repente deixa tudo e vai embora? hoje fui dar aula no segundo grau, e quando entrei na sala, havia recadinhos no quadro e cartazes dizendo Carol, good luck! tinha um bolo enorme, pipoca, brigadeiro, refrigerante. no bolo, acho que o maior bolo de chocolate que eu já vi, vinha meu nome escrito. fiquei tão surpresa que só agora entendi. dei aula normal enquanto a bandeja de brigadeiro girava e eles se levantavam pra tomar refri. fui embora sem trazer os cartazes e fiz só uma pausa pro bolo. fui fria, não trouxe meus bilhetinhos. fiquei em choque ao invés de ficar emocionada, fiquei com raiva de estar indo embora. o segundo grau era algo que eu queria muito. também não tive coragem de contar pras minhas crianças que nossos dias estavam contados. e as english classes delas cheias de musiquinha, teatrinho, games e lápis de cor, que antigamente era uma hora e depois passou pra uma hora e meia, hoje durou duas horas. ninguém queria ir embora de jeito nenhum. julho mal entrou e já estávamos fechando o Lagoa no mesmo horário do verão. cansativo até entrar novamente no ritmo e definir os turnos, até lá vamos ficando dia inteiro no Lagoa que é sempre animado.

como ia dar aula, hoje não ia pro Lagoa, mas ainda tinha jantar no Vila. tinha ariacó assado e o melhor arroz que já comi nos meus 31 anos que o Leôncio tinha feito. mas o peixe quem pescou foi o pai dele, o Pelé. depois ainda tinha flan da Tina que já tinha capotado de sono, que a gente foi comer vendo a lua. hoje era dia de lua cheia. minha última lua cheia em Caraíva. ao fundo Dominguinhos cantava: "naquele instante me convenci, que o bom da vida, vai prosseguir". não sei não, corazón hecho trizas.


um capítulo: que "osadia!" ou um passeio pelo rio morto

caraíva, 1º de julho de 2009:
para: a linda Marina

a marina outro dia chegou no lagoa numa segunda-feira de manhã pra convidar eu e socó pra andar de lancha. o motor do barco dela acabara de chegar, ela estava super empolgada!!! silvinha (socó) estava em itacaré, então fomos eu, marina, kuki e dante (que ia dar umas dicas de como conduzir o barquinho). levei a uéw (minha afilhada, ou a gatinha preta da socó) e a laika, a cachorra vovozinha da marina, também foi. pegamos o dante em casa, depois o kuki no varandão. mas até pegar o kuki foi uma aventura. a marina teve que aprender a fazer baliza. e o dante que tem paciência zero, quando o barco começou a andar pra trás, quis que a marina descobrisse o porquê. ele queria que ela sacasse por si só que a lancha estava de marcha-a-ré. e o dante repetia: porra, se você fosse burra eu nem tinha vindo. que "osadia", como diz-se aqui, mas que nada, era um elogio, mas ela ia ficando nervosa com tal didática e dirigia o oposto ao que ele ensinava. o kuki não sabia nadar e várias vezes eu tinha certeza que o barco ia virar. foi muito emocionante!! a uéw não parava de miar. gato adora água né!? só sei que ela voltou rouca e o kuki dizia: agora ela vai se chamar uéw (pronúncia rouca) rs.rs.. ainda tinha sol quando passamos pelo rio morto. o dante quis entrar lá pra eu conhecer.. fomos entrando entrando. ele e marina com a varinha tentando pegar robalo. o kuki já não respirava, eu, quase que rezava, uéw já tinha dormido de cansaço. a lancha entrando entrando até onde não dava mais. essa parte do rio é estreitinha, cheia de galhos, lindo lindo até onde mandou parar. um silêncio, um cheirinho maravilhoso, a portinha do céu mesmo. vai vai e de repente não dá mais, e a superfície é só planta, verde de planta. o que mais pode acontecer? a laika pensa que é um gramado e blup, pula!!! meu deusss e agora, josé??? marina sai lá de trás no pulo dizendo: calma! calma, sei. debruça na ‘proa' e fica só com a pontinha do pé e um pedaço da perna pra dentro do barco, minutos tentando resgatar a laika daquele mangue. todo mundo pasmo. e mudo. com muito esforço ela consegue. a laika é pesada. e quando a cadelinha sobe no barco... joga água em todo mundo. voltamos pra caraíva batendo queixo, porque o sol já tinha se posto. nem se eu tivesse tomado algo teria rido tanto. ô passeinho emocionante e engraçado.

um capítulo: geografia é desimportante



caraíva, 1º de julho de 2009:

estava em dúvida sobre o título do capítulo de hoje, se eu poria: from united states of eunápolis (plageando luiz gonzaga e porque estou aqui de castigo em eunápolis esperando o bus pra cidade maravilhosa). ou se seria: são pedro patrono dos pescadores, já que a cidade está toda enfeitada pra celebrar o pedrão. e também porque desde 20/6, lá em caraíva, estamos comemorando são joão, são pedro. só festa. e dá-lhe feriado nas cidades grandes da bahia. mas, conversando sobre minha possível mudança pro rio de janeiro, o tião acabou de me escrever essa frase, que pra variar eu achei lindo como tudo que ele escreve, e ficou de título: geografia é desimportante, já que segundo ele, tanto no rio quanto em caraíva, “a paisagem você já tem”. é um consolo?

podemos começar?? aí vai...

tivemos que arrancar antes do comando da fê (a puxadora da quadrilha), ou pode ser que levássemos um coice do cavalo do petróleo, que concedeu sua carroça (toda enfeitada) para a entrada dos noivos. iiiirrá!!! era são joão!! dançamos quadrilha 3 vezes nas várias festas de são joão: no lagoa, na praça, na nova. cheguei a pensar que não tinha mais idade pra isso. que exercício!!! ficou a coisa mais linda e também as festas. fiquei super orgulhosa de mim mesma de ter feito parte da organização e de ter suado pra acontecer. e foi melhor do que o esperado, a festa no lagoa, que na verdade era de caraíva, o lagoa só como local, durou de 4 da tarde às 4 da manhã. e foi uma alegria só. estava super astral, com barraquinhas de comidas típicas, correio elegante, brincadeiras com prêmios como passeio pra ver baleia, vale-ariacó (peixe), pastel do pará, porção de camarão no kuki, jantar no lagoa, etc. um luxo! e já que os meninos do triângulo caraíva hoje em dia moram em sp, outros meninos de lá, caceta, zinei e vaca velha (joaca) tocaram ao vivo. do lagoa sempre escutava o zinei na sanfona e ficava babando, mas nunca os via se apresentar. que desperdício!! eles nem tinham nome, e naquele dia batizaram o trio de “os primos”.. anotem aí, eles têm futuro!! ensaiamos todos os dias a quadrilha dos adultos (foto) que teve lugar no salão grande do pelé. as crianças ensaiavam na escola e era outra quadrilha, lindinha também!! meu par era meu amigo amado, o silmar. era o mais engraçado de todos, só de pensar, como dizem aqui, pipoco na risada. todo mundo a caráter, tudo super enfeitado, decorado com bandeirinhas e flores. lembro que no dia da festa da nova não estava afim de dançar nem ir, mas acabei indo só pra festa, sem roupa de são joão. queria ir prestigiar meus alunos do outro lado. mas chegando lá arrependi e acabei entrando no meio da quadrilha, com outro par, o azulzinho. e com a roupa que eu estava mesmo. no começo de tudo, no primeiro ensaio, ficamos sabendo de uma mulher no arraial que puxava quadrilha. ela concordou em ir pra caraiva ensaiar a gente sem cobrar nada porque era uma festa da comunidade. mas thurma, a mulher era tão estressada!!! ela gritava no microfone com voz de taquara rachada: “estão descontando 3 horas do meu salário pra eu estar aqui. vocês vão aprender ou não vão?” eu hein minha filha!?!? dispensamos a bruxa em seguida: muito obrigada, mas não precisa vir de novo não, é muito trabalho pra você. daí nós mesmas nos reunimos e escrevemos os passos que ela havia ensinado. a marina concordou em puxar (precisa ter talento pra isso), mas a fernanda acabou pegando porque a marina dá aula à noite. mas um dia ela ensaiou a gente e “gritou” no microfone: “eu gastei 3 minutos pra chegar aqui. vocês vão aprender ou não vão”??? koakakakakakakak e pra fechar com chave de ouro, anteontem ainda teve são pedro no pelé e de novo, a gente dançou. comemos canjica, pé de moleque, curau, quentão na fogueira e esbagaçamos no forró.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

um capítulo: la caraiva blu


Caraíva, 7 de junho de 2009:


pro Jairo, que me pediu um capítulo de aniversário.



é terça-feira, mas acordo como se fosse domingo. cercada de coqueiros, cajueiros e flores que não sei o nome, desço os degraus feitos na duna de areia do La Caraiva Blu*. era de fato, terça-feira. a Socó já me esperava na beira do rio para comprarmos o que faltava dos ingredientes do nosso almoço de domingo. terça é nosso dia de folga e sempre mobilizamos a galera e bolamos algum programa diferente pra fazer. neste dia ele teria lugar no Varandão do Kuki. La Caraiva Blu é o nome da "propriedade" pra onde me mudei há dois meses. lá, somos vizinhas. são 4 casinhas de boneca, num terrenão com bancos de tronco no jardim. o vasinho de nossa mesa de jantar na varanda está sempre enfeitado com helicônias. e à noite, precisamos do auxílio de uma lanterna pra subir a duna. é lindo e faz muito silêncio porque a única coisa ao redor é a vendinha do Gilmar, que já não abre há tempos. a rua da janela do meu quarto, é onde os meninos cortam caminho pra escola, e todo mundo que passa por ali, eu reconheço a voz. como diz a Hermínia, aqui a gente sabe o nome até dos cachorros. por não ter forro no telhado, como todas as casas rústicas da vila, e por lá ser tão pacífico, aparece infinidade de insetos dentro de casa que nem sei o nome. e mesmo com mosquiteiro, prefiro dormir com uma luz acesa. continuo medrosa de bichos, apesar de! e na minha casa inteira são duas lâmpadas. a cozinha fica do lado de fora e existe pra saber que tenho uma cozinha. não uso já que tomo café, almoço e janto no Lagoa, minha outra casa. mas este daqui é pra contar a mais recente novidade: sou a nova professora do 2ºgrau!!! há 5 anos, Caraíva não tinha 2ºgrau e os meninos estavam todos sem estudar. um absurdo. ano passado batalhamos e conseguimos. porém saiu à distância. a duras penas, conseguimos um monitor, que é a Marina, quem me convidou pra dar as aulas de inglês. a escola fica em Nova Caraíva, porque a maioria dos alunos é de lá. o nome da escola é "Alegria do Saber". é precária como qualquer escola pública: quadro de giz, pintura descascando, quadras improvisadas e banheiro sem papel. só dou aulas às quartas. e pra chegar lá é todo um processo: atravessar de canoa e caminhar 1 km pela estrada de terra. sempre atravesso com os meninos daqui, eles mesmos remam. às 19h está todo mundo de livrinho debaixo do braço. é engraçado porque dou aula pros meus amigos e tem muita gente aqui que não estudava há 5, 10 anos. está chovendo muito estes dias e assim temos que ir de pé na canoa e de sombrinha. a Cineka, minha aluna linda, tem carro, mas quando ela falta, subimos e voltamos a pé. roots né!? adoro!!! faz parte. os meninos morrem de preguiça e falam que eu não me canso porque só vou uma vez na semana. eu sei bem porque não me canso. nunca cansamos do que a gente ama. o friozinho começou, mas eu ainda não abri minha mala de roupas de frio. outro dia passando na rua de blusa de alcinha e shorts, o Hilton de gorro e "capote" (casaco aqui) gritou: "rapaz, está querendo virar bahiana, é!?" ontem, sábado, os 31 alunos tiveram prova o dia inteiro e fui com a Marina de manhã para aplicar. subimos de carro mas resolvi voltar antes dela terminar. desci andando,estava sol, e vi o Maycon na padaria Felicidade. entrei pra tomar cafezinho com ele e feliz fiquei porque lá vendia marta-rocha!! que delíciaaaaa! quando fui pegar o porta-guardanapos, fui picada por uma abelha. doeu tanto que tive vontade de chorar. fiquei toda paralisada, parece que você fica com câimbra no corpo inteiro e o dedo dava três. não lembrava que picada de abelha doía assim. depois Macico chegou, vindo da prova e fomos embora os três juntos. cortamos caminho pela Barra e atolei até quase metade da perna na lama. os meninos ficaram "fazendo resinha" (rindo de mim na linguagem bahiana). e em seguida, o Tazinho atravessou a gente de canoa. a Barra estava maravilhosa!!! e vimos a Sophie aprendendo a zingar sozinha uma canoa. coisa mais linda! depois tinha feijoada beneficente no Pelé para arrecadar dinheiro pra festa junina. já olharam pro céu hoje? olhem!! é lua cheia. beijos da casa nova.
*o Guilherme é alguém muito especial ou o sortudo dono do La Caraiva Blu onde morei 3 meses antes de vir pro Rio. foi ele quem deu este nome, azul em italiano, pra dizer: tudo azul!! pra mim é muito mais, verde e azul!


um capítulo: o forró do puxa-a-faca


caraíva, 20 de maio de 2009:

pro Léo

sexta-feira é dia de forró do outro lado. o outro lado é atravessando o rio, é nova caraíva. a diferença é que caraíva é cool, e nova caraíva, brega. mas todas são boas se você vai com olhar curioso. o forró do puxa-a-faca acontece às sextas, porque sábado tem forró no pelé, em caraíva. públicos diferentes, repertório beeeem diferente. no pelé toca forró pé-de-serra, enquanto que na nova, também tem arrocha e brega. forró puxa-a-faca porque nem sempre é civilizado e às vezes pode ser perigoso, brigas com facão são frequentes. mas fui acompanhada dos meninos. pela primeira vez, depois de um ano e meio morando aqui, a vontade surgiu. leôncio, silmar, macico e alexandre me esperaram no lagoa até fechar enquanto tomavam natu nobilis. e tinha um casal que não ia embora de jeito nenhum e nós aqui esperando, esperando... já era tarde (lembrando que tarde aqui ainda é cedo aí) e saímos felizes da vida, eu rumo a mais um novo programa ou lugar pra conhecer. escolhemos uma canoa na beira do rio e o leôncio achou um remo em outra. silmar foi remando, com a promessa que o léo voltaria. eles já tinham bebido uma garrafa de natu nobilis, mas aqui não tem lei seca. de longe escutávamos a música que vinha do outro lado do rio, de lá onde a gente queria chegar logo. só de estar naquela canoa com céu hiper estrelado já era uma bénção, ainda mais com esses meninos que eu sou a-p-a-i-x-o-n-a-d-a!! subimos a ladeira da nova morrendo de dar risada dos causos deles. passamos por um bar onde alguns homens de bigodinho ralo jogavam sinuca enquanto suas mulheres, uma com bebê no colo, bebiam cervejinha. conhecia quase todo mundo. chegamos no forró do vassoura (o nome do dono) de remo na mão, que era nossa garantia de volta. era bem simples mesmo, tinha um palquinho minúsculo, bancos de cimento, o banheiro era enorme e não tinha tranca na porta, tudo bem tosco, mas não por isso, aconchegante. vendia-se cerveja, cachaça pitu e uns salgadinhos tipo pipoca guri. música rolando, todo mundo dançando um forrozinho do jeito que a gente gosta. era perfeito. até de repente começar o arrocha - momento suuuper esperado por mim. e o leôncio me fala: presta atenção carol, nas meninas dançando pra você aprender. e vamos lá, me segue! uiuiuiuiuiuiui. o léo é filho do pelé, tem super bom gosto, sabe tudo de luiz gonzaga, forrozeiro de primeira, mas... está na chuva, é pra se molhar... e ele é minha dupla predileta, dançar com ele não tem preço, se é que vocês me entendem... depois começou sessão brega. sabe aquela música que foi um hit pop típico de 98fm há uns dois anos atrás, you´re beautiful, do james blunt, que o cara não pára de cantar: you´re beautiful, you´re beautiful, you´re beeeeeautifuuuuuuuul. gente, eu dancei essa música, versão remix, brega. dancei essa música inteira e achei a melhor coisa do mundo. não sentei um segundo e tudo o que eu gastei nessa noite foram 6 reais, ou, duas novaschin. hora de ir embora. silmar chamou. e todo mundo foi, imediatamente. saímos em bolo. ninguém lembrou do remo. eu, leôncio e outra menina já estávamos mais na frente, com a roupa empapada de suor dizendo que chegando na travessia era pular no rio com certeza. como já estávamos quase no atalho que vai pra barra, o léo sugeriu: vamos pela barra? oxe, se meu lema aqui não fosse me chama que eu vou eu até hesitaria. resposta unânime: claaaaaro!! afinal a gente já queria dar um mergulhinho mesmo. o céu estava muito estrelado, estava bonito pra caramba!! de longe o tazinho viu a gente e começou a assoviar achando que queríamos atravessar. que nada, a gente vai nadando mesmo. guardamos tudo que tínhamos na mão na mochila do léo, ninguém carrega bolsa aqui e tudo que tínhamos significa uma lanterna e uma carteirinha de crochet feita pelas mulheres de caraíva. mas vimos que nem ia precisar, a maré estava baixa, que delícia, e atravessamos com água na cintura. absolutamente fantástico!! depois fomos pro vila do mar e ficamos na piscina até quase amanhecer. e quando voltei pra casa, o mar parecia um tapete. não sei se consigo explicar, mas morar aqui é como viver intensamente. você curte muito tudo. talvez porque seja outra realidade, e também por você saber que é passageiro. é quase uma ode ao hedonismo. é difícil ir embora, não consigo mais imaginar verão melhor que este daqui.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

um capítulo: aniversário de canoeiro


caraíva, 8 de abril de 2009:

eis que se aproxima um bêbado, cena infelizmente freqüente no cenário daqui, com uma garrafinha de água mineral. só a embalagem, com a cachaça pela metade, ele diz: “deixei minha cachaça ali encima daquela mesa e beberam metade. alguém pode me dar um trocado pra eu completar a garrafa??” ele não merece o cannes da originalidade? esse caso aconteceu com o andré, morador daqui, mas além desses surtos de criatividade, o xuré, que é esse índio bêbado e baixinho, sempre sorrindo, com os dentes pelas metades e 17 filhos, também faz bizarrices asquerosas quando o assunto é álcool. aqui raramente surge um besouro bem grande e cascudo que voa baixo de tão pesado. eu dou chilique quando ele aparece porque ele é bem feio, exagerado. uma vez o xuré pegou um, amassou bem e comeu. dias atrás cada casa que eu passava, observava curiosa sempre alguém jogando colherinhas de sal nas plantas. até descobrir que era por causa da praga dos caramujos. outro dia tinham uns 4 enrolados numa suruba sei lá, na varandinha do meu quarto. não é maldade, porque é uma praga, e vai sal neles. já era tarde, um silêncio danado e pude escutar o barulhinho de coisa fritando, deles derretendo em menos de 5 segundos com o sal: tisssssssssssss. o xuré também já comeu caramujo apostando pra ganhar cachaça. eu nem consigo escrever isso sem fazer careta. ui!

depois do verão meus meses prediletos em caraiva são março e abril. é curioso morar e trabalhar num lugar (pousada de dia, bar de noite e tudo ao mesmo tempo) que está sempre com a porta aberta e a qualquer hora uma surpresa. por causa disso é difícil a gente se entediar, toda noite a gente se apronta pra sair, ou arruma a casa como se pra receber os amigos. esses meses são repletos de personagens interessantes e novos, como sempre, já que estamos falando de um cais ou de um porto, onde as pessoas vêm e vão. o diferente é que agora a gente tem tempo de conversar, conhecê-los. além disso, os personagens daqui ficam mais em evidência e alguns deles, tornam-se bem próximos. eu já sabia disso, mas pra silvinha (socó), minha nova companheira de trabalho e amada amiga, é tudo novidade. mas eu continuo encantada até hoje. nessa época que não tem nada pra fazer, além do lagoa todo dia funcionando normalmente e do forró no pelé que só tem aos sábados, a gente topa tudo. qualquer convite é uma festa imperdível. a gente nunca falta. é chamar que eu vou, que todo mundo vai. pra ser feliz aqui tem que exercitar e curtir a sociabilidade, senão fica tudo sem graça. mesmo se não está muito afim, vai, porque é diversão garantida, nem que seja só pra olhar.
sexta passada foi a festa do aniversário dos canoeiros. os canoeiros são peça primordial aqui. são eles quem proporcionam o primeiro bom impacto pra quem chega em caraíva. de carro ou de ônibus, a pessoa começa a desacelerar quando vê o rio e desacelera de vez quando o atravessa no sossego da canoinha. assim sem barulho de motor, canoeiro zingando, quase uma dança junto com o espetáculo da água verde daquele rio enorme. suspiros... ali é onde começa a transformação. ficaram uma semana fazendo uma vaquinha pra festa, todo mundo contribuiu. seria não sei quantos bois e cerveja numa festa durante o dia, na biblioteca. na biblioteca?? é, na biblioteca. silvinha me chamou, eu meio em dúvida se já ia cedo assim. no caminho escutei que estava tendo aula de capoeira das crianças e quis entrar. silvinha não deixou: “vamos logo pra festa!” e chegamos na biblioteca. de longe escutava-se o arrocha e entrando lá 15 homens por m2! aqui em caraíva a maioria da população é masculina, tadinho dos meninos! não tinha mais lugar pra sentar, mas os cavalheiros imediatamente deram suas cadeiras pra gente e ao mesmo tempo surgiram umas 5 garrafas de cerveja ao nosso redor. momento rainhas, até quase acabar, com pessoas que eu adoro!!
a mais nova mania agora é andar de caiaque, em dias de mar calmo, dá até pra ir aos recifes, onde se pesca polvo e pega ouriço. e ver de perto tartarugas aos montes. quando é no rio, enveredar nos braços dele, nos caminhos estreitos por entre o mangue, e soltar as bruxas dando uns gritos de susto quando olha pra cima e os carangueijos estão no alto dos galhos, bem encima da sua cabeça. nessa selva, também outro dia estava pensando que se der vontade de ver alguém, você tem que fazer telepatia, porque celular não funciona e mandar mensagem nem pensar!! a única utilidade dele é servir de despertador pra te acordar às 5:30h da manhã em dia de ir pra rua (lê-se porto seguro). e quando tem chuva, nem ônibus tem. ficamos literalmente ilhados, deliciosamente isolados, já imaginou?
(aquarela de sophie alves - a barra de caraíva)


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

avec elegance





caraíva verão 2009:

um mimo para Simone Villarino, Marina Couto, Vitor Algorta, Theo Mendonça, Rafael Oliveira(Benegão), Aulus Baia (Deco) e Fernando Brina.

com a colaboração de Silvinha Almeida (Socó)

pra variar, nem ideia das horas. mas de novo, pra variar, era de manhã. de manhã já com sol rachando. mas aquele dia o céu estava nublado. o Pará nem tinha aberto ainda, mas a gente queria muito que estivesse. pra tomar a saideira. asss saideiras, como costumávamos fazer todos os dias daquele mês de janeiro. estávamos eu, Silvinha e Theo na beira do rio olhando de longe o Fernando invadir um iate. enquanto o Theo dizia: "de onde a Hermínia tirou essa figura?" alguém sabe, gente? de onde a Hermínia tirou essa graça de peça?

éramos nove pessoas bem diferentes em uma casa cercada de vento. nos revezávamos em turnos e a única reclamação era o cocoricó de um galo triste (vários galos) e uma maritaca que não parava de... oxe! o pavor dos morcegos foi sublimado em canção, e de certa forma, em homenagem a nós, os vampiros do forró. somente ficando de fora os que iam ver o sol nascer ou acordavam de manhã.

o varal feminino foi inaugurado tardiamente no dia 15 de janeiro. até então nós meninas disputávamos um lugar ao sol, uma vaga entre aquele mundaréu de cuecas que se multiplicavam em dia de lavanderia.

a primeira perda foi logicamente de quem ficou menos tempo. ou em outras palavras, ainda era pouco tempo. aquela época onde a gente ainda tinha medo da portinhola do dragão ou se assustava com o bizarro homem-sem-pernas cravado na areia que diga-se de passagem, como parecia com o Deco!entonces... o primeiro luto foi pela linda Marina que partiu levando como souvenir da Bahia, um José made in USA, autêntico. em seguida, e sem dúvidas a mais triste despedida, deixando flores e borboletas, a Simone causou lágrimas e abraços coletivos na beira do rio. e até então nos lastimávamos arrepentidos de tê-la deixado partir tão cedo. logo, o Fernando, à francesa. bem menos sofrível assim. e por último quase todos os meninos, desnutridos e à beira de uma cirrose.

depois de estágio intensivo com Deco, Theo e Benégas, todo mundo ficou muito esperto. ganhava o dia quem conseguisse atrapar alguém em alguma armadilha sem volta e o mais díficil, com muita elegância! depois de pôr a cerveja 'na sua', ou a caneta 'na minha', de levar 'aquela' rasgada ou de ser pêgo em flagrante pagando umas paralelas de noite numa praia (supostamente) deserta... ai ai, nada como acordar de manhã escutando: eu já peguei o Theeeeeeo. ou vc prefere tomar uma voadora mesmo sustentando um bigode? não é pra qualquer um!

houveram momentos clássicos. o Theo teve seu momento ema ao tentar esconder a cabeça na areia. o Albertinho seu momento grandioso sendo confundido como o prefeito da vila ou como o nosso big boss. a Silvinha em seus momentos sonâmbula culminando em Trancoso onde pediu um pastel pro Deco. desnecessário dizer do momento pop do Benegão, tomado pela fama de sua popularidade construída no Lagoa e do estrelismo dos bigodões, gerando curiosidade em torno da população que inquieta questionava: "por que todo garçom que trabalha no Lagoa tem bigode?". o prêmio inovador marketeiro foi pro Fernando. e o momento go-go boy do Deco em sua performance “mangueira!” arrancando suspiros e desmaios de mulheres enlouquecidas, cena jamais vista desde os Beatles. suspiros… momentos Ronaldinho compartilhamos todos. depois de dias pacíficos, a Amanda inaugurou o placar marcando o primeiro gol. todo mundo garantiu o seu, ficando apenas uma dúvida: bicho de goiaba come quieto?? rsrsrs. mas o "oscar" de roteiro original vai para… Benegão!!! pela sua engenhosa invenção da lasanha vegetariana com alface. aplausos.

e por falar em bigode... pq a gente nunca se cansa desse tema, o Fernando lançou moda, foi o dom bigodão I, mudou de personalidade e arrastou seus primeiros seguidores tais como Theo, Benégas, pelas metades o Vitor e... Silvinha. mais uma multidão de fanáticos desejosos em uma quase ilha infestada de gente. plantou uma sementinha numa Caraíva de longos quem viver verá. sem dúvidas, um impacto marcante e histórico. méritos de pessoa carismática!

nos intervalos da rotatividade entre casa 3 e casa 4 para os meninos e casa 5 para as meninas, e reviradas cotidianas, as dormidinhas eram debaixo das castanheiras do Satu, no varandão do Kuki ou na praça, onde o Fernando dormiu pensando nela. na novela diária do Lagoa seguida diariamente pelo nosso querido expectador Jorginho que um belo dia apenas o sol raiava, entrou em nossa casa, acordando a bela fotógrafa neo-zeolandesa com uma deselegante proposta: xjqsjdwhedsdjsk@###* sem falar em nosso querido chefe Albertin que sempre tinha que se retirar por alguma zica, entre outros figurantes tão especiais.

um dia escutei Benegão contar que nunca teve um reveillon inesquecível. a vida é cheia de momentos inesquecíveis. de pessoas queridas que fazem acontecer. o reveillon até sabe-se lá que horas dentro do rio sabor melancia e do primo do papagaio que nos proporcionava cerveja atrás de cerveja... os 40 dias cercada de vocês foram alegres até onde mandou parar. também tínhamos o céu inteiro, toda aquela areia, as falésias e o mar. tínhamos uma lagoa e vários brothers que creíam nossos amigos. assim a gente achava e se sentia. o melhor de tudo era a gente mesmo.

ah mas, antes de ir embora... Deco, pede a saideira??????

caraíva, 13 de fevereiro de 2009

um capítulo: de repente, ciganinha



caraíva, 23 de janeiro de 2009:

depois de um ano em caraíva, sobrevivi! um ano usando hawaianas em lugar de calça jeans. óculos escuros ao invés de bolsa, chaves, celular. protetor solar ao invés de maquiagem. consegui viver sem cinema, li muito, perdi o medo de lagartixa. conheci milhões de pessoas novas e interessantes, falei inglês, espanhol e exercitei a gentileza como nunca. também convivi com pessoas muito simples, experiência nova. o verão está sendo perfeito. ontem achei super estranho voltando pra casa o caminho todo escuro. depois a ficha caiu. é que eu só chego de manhã. ô pêga!! como se diz por aqui... o dia tem ficado claro muito cedo e o céu vermelho voltando pra casa vai deixar saudade. todo dia vamos no forró, quando não tem festa no lagoa. e vemos o sol nascer, ou melhor, ele nasce e a gente não vê, do forró ou da padoca (a padaria 24 hs do nem onde batemos ponto). outro dia animei de ir ver o sol nascer da praia, a praia fica na porta de casa, mas os borrachudos não deixaram. oxe! não rolou de dar aula na escola da aldeia e não tenho vontade de ir embora, mesmo sabendo como o mundo é graaaaande, mesmo tendo outros planos... planos gigantes.