“desculpe-me, não te reconheci: eu mudei muito”.
Oscar Wild
tinha algumas cicatrizes -
mordida de cachorro, queda de bicicleta, catapora... – quantos anos narrando
sua pele! nem precisava me contar. o chapéu sobre o sofá, ele deitado ali ao meu lado. eu o observava
timidamente, e desviava o olhar quando ele me pegava fitando-o com curioso
deslumbramento. almejei que nunca perdesse o interesse por mim, que
seguisse para sempre querendo saber de mim, lendo minhas reportagens pelo
mundo, desejando-me alegrias. minha presença sempre ali, pulsando nele. desejei
que aquela relação fosse próspera, mesmo daquele jeito, às avessas. refletido
no espelho, contou-me que se sentia intensamente feliz. de mim só ouvia o
silêncio exausto: eu sendo completamente eu, imaginando o reencontro com hora
marcada (...) se você me vir andando na rua
sorrindo ou distraída num banco de metrô, é meu pensamento ocupado destas tardes ao som de notas musicais.
https://www.youtube.com/watch?v=8UVNT4wvIGY