Acho que não fui uma criança criativa, talvez por ter
sido reprovada em todas minhas dúvidas. Coitada da minha mãe, cuidava sozinha,
sem babá, empregada ou família, de três meninas. A gente morava na Express Way
e meu pai durante a semana trabalhava em outro acampamento, o 215, e só vinha
nos finais de semana, que lá no Iraque, eram quinta e sexta. Então, eu imagino
que ela não devia ter muita paciência pra ficar explicando miudezas pra gente,
pois tinha que lavar, passar, limpar, cozinhar, acompanhar deveres escolares e
pentear e higienizar três cocotas, eu e minhas irmãs, de quem ela cuidava como
se fôssemos bibelôs. Ela morre de arrependimento até hoje de ter me arrastado
pela orelha da cozinha ao banheiro, rangendo os dentes, porque eu não entendi
de jeito nenhum o para casa daquele dia, que consistia em ligar a sombra do
bicho ao bicho. Já meu pai, por não conviver diariamente, talvez tivesse mais paciência na
hora de ajudar nestas tarefas. Numa delas eu tinha que inventar um robô, uma
máquina, algo assim. E não tinha a menor ideia. Ele pegou e fez. Se o filho
fosse meu eu pensaria junto, mas na época educação era assim, você depositava
seu saber na criança que ouvia quieta. E meu pai, engenhoso engenheiro, tão
caprichoso e inteligente, criou uma máquina de passar roupa. É engraçado que a
tarefa doméstica que eu menos gosto hoje em dia é justo passar roupa. Uma pena
eu não ter guardado o desenho feito a lápis, que agora só vive, brilhando a grafite, na
minha memória. Daria um caldo!
quinta-feira, 23 de julho de 2015
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