quinta-feira, 24 de setembro de 2009

um capítulo: adeus céu cor-de-rosa

caraíva, 24 de julho de 2009:

"pra te morder e pra soprar, afim de que não te doa demais, já que tenho que te doer, meu amor"
C. Lispector 

essa semana foi toda de despedidas. foi a última segunda-feira, a última terça-feira,... e hoje é o sábado, ou por fim, o último dia. amanhã piso na cidade maravilhosa. todo mundo aqui anda dizendo que há muitos anos não fazia um julho tão bonito, tem sido o mais ensolarado de todos os tempos. pena que ontem, na minha última sexta-feira, o sanfoneiro do Triângulo Caraíva não conseguiu chegar a tempo e o show no Ouriço foi cancelado. já estava imaginando Billy Joe cantando ‘Meninos' pra despedir com chave de ouro! amanhã espero ir  emendada pra Porto Seguro no ônibus das seis da matina. tem despedida com lasanha no Lagoa e depois esbagaçar no Pelé até de manhã. só faltou a ponta do Corumbau, já despedi do Espelho, do Satu, da Prainha, Pedras do Nego. hoje é dia de sair de casa em casa dando tchau pros mais amados. incrível foi o céu do Satu voltando do Espelho. estava inteiro e imenso cor-de-rosa. segundo o Miguel, que estava comigo na hora, dava pra ver como a terra era redonda. as nuvens emendavam no mar.

hoje acordei mais cedo e estou com porta e janelas abertas daqui da minha casa (ou a casa do Guilherme) no La Caraiva Blu. ninguém me vê, fico do alto de uma duna. o céu está azul, tem muito sol e uma briiiiiisa... tudo é perfeito! só tem eu aqui, vizinho nenhum, é o melhor lugar de Caraíva! ontem foi minha última noite nesta casa, agora me despeço dessa duna de areia com degrauzinhos de madeira, desse monte de árvores, desse lugar onde eu também fui muito feliz!

e só pra terminar este último capitulinho, nessa última semana aconteceu comigo, o que aconteceu com o personagem do Woody Allen em "Descontruindo Harry". lembra que ele começa a enxergar tudo embaçado? não era nada orgânico, não tinha diagnóstico nem remédio, ele estava apenas desenvolvendo um sintoma. acreditem, essa semana não enxerguei nada! tive pela primeira vez na vida, conjuntivite. passei alguns dias parecendo que chorava. e várias pessoas disseram que assim como no filme, devia ser psicológico, algo que eu não queria ver, excessos na glândula lacrimal. conjuntivite dura uns 3 dias, mas a minha cegueira não passa! até acredito porque eu jurava que estava super tranquila de ir embora. ahãm!

amanhã... rio de janeiro.

FIM
(aquarela de Sophie Alves - Lapa -Rio de Janeiro)



um capítulo: se choro ou se sorrio


Lua caraivática

caraíva, 8 de julho de 2009:

chegando da aula na Nova Caraíva, do meio do rio escutava música que vinha do Bar do Porto. resolvo dar uma entradinha pra dar oi pro Romário (que faz a melhor pizza de chocolate com banana do mundo!) e ver quem estava cantando. acabei ficando durante três cervejas. encontrei o Guilherme, meu amigo dono do La Caraiva Blu, onde moro. ele chegou hoje. estes dias estamos recebendo os amigos. é julho, Caraíva como uma grande casa. cada dia chegando alguém. não dá pra explicar, é absolutamente fantástico. é julho e Caraíva nunca esteve tão colorida. amanhã abre a Convenção de Malabares, a já começa a pulsar de gente. e logo logo vamos ver essas pessoas soltando fogo pela boca. eu que fiquei ali um mês reinando sozinha no La Caraiva Blu, hoje tenho companhia. um amigo do Ricardo (o outro dono) que está ficando na casa dele disse que eu era mais famosa que eles. quando lhe perguntaram onde estava ficando, respondeu: ali, na casa do Ricardo. Ricardo? ali atrás do Raimundão. ah sim na casa da Carol. rsrs. gosto tanto daqui, mas a novidade mais fresca e crua, e cruel, por que não, é que estou indo embora. recebi uma proposta irrecusável pra ir logo pra cidade mais que maravilhosa, como disse meu amigo Jairo. por causa disso tive ataque de choro imediato no beco mas que passou logo porque de repente fiquei animada com todo aquele burburinho cultural que eu teria de volta ao meu redor, e a praia que também continuaria lá. mas agora de novo desabo, hesito e sofro. nos dias de forró, quando começo a escutar aquelas musiquinhas, choro junto com a sanfona. minhas amigas psi não acham que isso soa histérico? é tão difícil se adaptar e quando você se adapta e conquista, você de repente deixa tudo e vai embora? hoje fui dar aula no segundo grau, e quando entrei na sala, havia recadinhos no quadro e cartazes dizendo Carol, good luck! tinha um bolo enorme, pipoca, brigadeiro, refrigerante. no bolo, acho que o maior bolo de chocolate que eu já vi, vinha meu nome escrito. fiquei tão surpresa que só agora entendi. dei aula normal enquanto a bandeja de brigadeiro girava e eles se levantavam pra tomar refri. fui embora sem trazer os cartazes e fiz só uma pausa pro bolo. fui fria, não trouxe meus bilhetinhos. fiquei em choque ao invés de ficar emocionada, fiquei com raiva de estar indo embora. o segundo grau era algo que eu queria muito. também não tive coragem de contar pras minhas crianças que nossos dias estavam contados. e as english classes delas cheias de musiquinha, teatrinho, games e lápis de cor, que antigamente era uma hora e depois passou pra uma hora e meia, hoje durou duas horas. ninguém queria ir embora de jeito nenhum. julho mal entrou e já estávamos fechando o Lagoa no mesmo horário do verão. cansativo até entrar novamente no ritmo e definir os turnos, até lá vamos ficando dia inteiro no Lagoa que é sempre animado.

como ia dar aula, hoje não ia pro Lagoa, mas ainda tinha jantar no Vila. tinha ariacó assado e o melhor arroz que já comi nos meus 31 anos que o Leôncio tinha feito. mas o peixe quem pescou foi o pai dele, o Pelé. depois ainda tinha flan da Tina que já tinha capotado de sono, que a gente foi comer vendo a lua. hoje era dia de lua cheia. minha última lua cheia em Caraíva. ao fundo Dominguinhos cantava: "naquele instante me convenci, que o bom da vida, vai prosseguir". não sei não, corazón hecho trizas.


um capítulo: que "osadia!" ou um passeio pelo rio morto

caraíva, 1º de julho de 2009:
para: a linda Marina

a marina outro dia chegou no lagoa numa segunda-feira de manhã pra convidar eu e socó pra andar de lancha. o motor do barco dela acabara de chegar, ela estava super empolgada!!! silvinha (socó) estava em itacaré, então fomos eu, marina, kuki e dante (que ia dar umas dicas de como conduzir o barquinho). levei a uéw (minha afilhada, ou a gatinha preta da socó) e a laika, a cachorra vovozinha da marina, também foi. pegamos o dante em casa, depois o kuki no varandão. mas até pegar o kuki foi uma aventura. a marina teve que aprender a fazer baliza. e o dante que tem paciência zero, quando o barco começou a andar pra trás, quis que a marina descobrisse o porquê. ele queria que ela sacasse por si só que a lancha estava de marcha-a-ré. e o dante repetia: porra, se você fosse burra eu nem tinha vindo. que "osadia", como diz-se aqui, mas que nada, era um elogio, mas ela ia ficando nervosa com tal didática e dirigia o oposto ao que ele ensinava. o kuki não sabia nadar e várias vezes eu tinha certeza que o barco ia virar. foi muito emocionante!! a uéw não parava de miar. gato adora água né!? só sei que ela voltou rouca e o kuki dizia: agora ela vai se chamar uéw (pronúncia rouca) rs.rs.. ainda tinha sol quando passamos pelo rio morto. o dante quis entrar lá pra eu conhecer.. fomos entrando entrando. ele e marina com a varinha tentando pegar robalo. o kuki já não respirava, eu, quase que rezava, uéw já tinha dormido de cansaço. a lancha entrando entrando até onde não dava mais. essa parte do rio é estreitinha, cheia de galhos, lindo lindo até onde mandou parar. um silêncio, um cheirinho maravilhoso, a portinha do céu mesmo. vai vai e de repente não dá mais, e a superfície é só planta, verde de planta. o que mais pode acontecer? a laika pensa que é um gramado e blup, pula!!! meu deusss e agora, josé??? marina sai lá de trás no pulo dizendo: calma! calma, sei. debruça na ‘proa' e fica só com a pontinha do pé e um pedaço da perna pra dentro do barco, minutos tentando resgatar a laika daquele mangue. todo mundo pasmo. e mudo. com muito esforço ela consegue. a laika é pesada. e quando a cadelinha sobe no barco... joga água em todo mundo. voltamos pra caraíva batendo queixo, porque o sol já tinha se posto. nem se eu tivesse tomado algo teria rido tanto. ô passeinho emocionante e engraçado.

um capítulo: geografia é desimportante



caraíva, 1º de julho de 2009:

estava em dúvida sobre o título do capítulo de hoje, se eu poria: from united states of eunápolis (plageando luiz gonzaga e porque estou aqui de castigo em eunápolis esperando o bus pra cidade maravilhosa). ou se seria: são pedro patrono dos pescadores, já que a cidade está toda enfeitada pra celebrar o pedrão. e também porque desde 20/6, lá em caraíva, estamos comemorando são joão, são pedro. só festa. e dá-lhe feriado nas cidades grandes da bahia. mas, conversando sobre minha possível mudança pro rio de janeiro, o tião acabou de me escrever essa frase, que pra variar eu achei lindo como tudo que ele escreve, e ficou de título: geografia é desimportante, já que segundo ele, tanto no rio quanto em caraíva, “a paisagem você já tem”. é um consolo?

podemos começar?? aí vai...

tivemos que arrancar antes do comando da fê (a puxadora da quadrilha), ou pode ser que levássemos um coice do cavalo do petróleo, que concedeu sua carroça (toda enfeitada) para a entrada dos noivos. iiiirrá!!! era são joão!! dançamos quadrilha 3 vezes nas várias festas de são joão: no lagoa, na praça, na nova. cheguei a pensar que não tinha mais idade pra isso. que exercício!!! ficou a coisa mais linda e também as festas. fiquei super orgulhosa de mim mesma de ter feito parte da organização e de ter suado pra acontecer. e foi melhor do que o esperado, a festa no lagoa, que na verdade era de caraíva, o lagoa só como local, durou de 4 da tarde às 4 da manhã. e foi uma alegria só. estava super astral, com barraquinhas de comidas típicas, correio elegante, brincadeiras com prêmios como passeio pra ver baleia, vale-ariacó (peixe), pastel do pará, porção de camarão no kuki, jantar no lagoa, etc. um luxo! e já que os meninos do triângulo caraíva hoje em dia moram em sp, outros meninos de lá, caceta, zinei e vaca velha (joaca) tocaram ao vivo. do lagoa sempre escutava o zinei na sanfona e ficava babando, mas nunca os via se apresentar. que desperdício!! eles nem tinham nome, e naquele dia batizaram o trio de “os primos”.. anotem aí, eles têm futuro!! ensaiamos todos os dias a quadrilha dos adultos (foto) que teve lugar no salão grande do pelé. as crianças ensaiavam na escola e era outra quadrilha, lindinha também!! meu par era meu amigo amado, o silmar. era o mais engraçado de todos, só de pensar, como dizem aqui, pipoco na risada. todo mundo a caráter, tudo super enfeitado, decorado com bandeirinhas e flores. lembro que no dia da festa da nova não estava afim de dançar nem ir, mas acabei indo só pra festa, sem roupa de são joão. queria ir prestigiar meus alunos do outro lado. mas chegando lá arrependi e acabei entrando no meio da quadrilha, com outro par, o azulzinho. e com a roupa que eu estava mesmo. no começo de tudo, no primeiro ensaio, ficamos sabendo de uma mulher no arraial que puxava quadrilha. ela concordou em ir pra caraiva ensaiar a gente sem cobrar nada porque era uma festa da comunidade. mas thurma, a mulher era tão estressada!!! ela gritava no microfone com voz de taquara rachada: “estão descontando 3 horas do meu salário pra eu estar aqui. vocês vão aprender ou não vão?” eu hein minha filha!?!? dispensamos a bruxa em seguida: muito obrigada, mas não precisa vir de novo não, é muito trabalho pra você. daí nós mesmas nos reunimos e escrevemos os passos que ela havia ensinado. a marina concordou em puxar (precisa ter talento pra isso), mas a fernanda acabou pegando porque a marina dá aula à noite. mas um dia ela ensaiou a gente e “gritou” no microfone: “eu gastei 3 minutos pra chegar aqui. vocês vão aprender ou não vão”??? koakakakakakakak e pra fechar com chave de ouro, anteontem ainda teve são pedro no pelé e de novo, a gente dançou. comemos canjica, pé de moleque, curau, quentão na fogueira e esbagaçamos no forró.