segunda-feira, 13 de junho de 2011

amantes.


*um texto para subverter a ordem do dia,
dia dos namorados.*
gosto de me lembrar, eu sonolenta ouvia você se trocando para viajar. seu jeito afobado, catando as coisas pelo caminho, o cheiro do café. antes de sair você se abaixou e sussurrou no meu ouvido que me amava. foi a primeira vez que me disse isso. eu freqüentava a sua casa. era sempre jazz de fundo e manchas de vinho nos sofás. você punha o colchão no chão e o ventilador ficava em cima da gente. lembro da primeira vez que fui lá. depois de dançar a noite inteira você me chamou pra ver a árvore que enfeitava a sua varanda. fazia noite de lua cheia e um pouco de frio, você me emprestou um casaco e não deixou que eu o devolvesse quando fui embora. queria me ver outra vez. lembra do dia que a moça da faxina chegou antes que eu saísse do banho? você me ajudou a vestir dentro do banheiro. o chão estava alagado e você se agachou para subir a barra da minha calça... éramos felizes. lembra da primeira vez que você fez marshmellow? pra comer com os morangos e me lambuzar, junto com a champanhe. aquele dia comemorávamos seu aniversário. era estranho te dividir com outra pessoa. leviano? muita gente podia achar, mas aconteceu com a gente. e por você ser sempre tão presente, me completava. não havia rótulos, sei lá, estávamos juntos, era tudo. e o dia que você me deu uma calcinha vermelha em formato de flor? você me entregou dando risada dizendo que comprara “aquela cafonice” para ajudar alguém na faculdade. mesmo assim, eu adorei. imagina! nada que vinha de você era brega. como eu adorava passear de mãos dadas com você! e quando me pegava de carro pra ir comer uma torta de chocolate n´algum lugar, lembra? a gente ia ouvindo Roberto Carlos no ipod. e as baladas até de madrugada? foram tantas! lembro das suas atrapalhadas, seu jeito elétrico e apaixonado, da sua insistência pra ficar comigo. essa obsessão me lisonjeava. guardo o cheiro da sua casa, do perfume de flor que entrava de noite, quando você abria uma fresta da janela. tinha uma foto dela na mesa do escritório, mas não me incomodava, o seu amor a ofuscava. e que contraditório, se era você quem enlouquecia de ciúmes. e aquela noite que você ligou pra sua mãe pra contar que não ia mais se casar? estava apaixonado por outra pessoa, lhe disse. ela levou tanto susto! você só queria me testar. meu amor, já faz quanto tempo? são quantos anos? e ainda. te mando esta carta desde longe. espero que goste, sempre esperei. espero que goste de tudo. para sempre sua.