quarta-feira, 9 de março de 2016

Num banco de praça




 “O verdadeiro amor não morre, descansa.”

Há um homem sentado no banco da praça lendo um jornal aberto na seção de obituários. Já faz anos que Homero tem esta mania. Que nem minha avó Rosa, que pedia para guardar os jornais só para se dedicar à leitura de quem morreu.

O Homero, este que lê o jornal no banco de uma praça do Rio de Janeiro, foi o grande amor de minha avó. É provável que ele não tenha tido conhecimento do obituário dela, pois não lê o “Estado de Minas”. Será que soube?

Homero se lembra de quando conheceu Rosa, aquela mãe charmosa e elegante, destoando das outras, à espera no portão da escola, que ele observava diariamente pela janela do carro enquanto também aguardava seus filhos saírem.

Rosa tentou falar com ele uma última vez, em vão, quando a irmã atendeu ao telefone e ordenou, quase gritando, que ela não ligasse nunca mais. Será que Homero soube?

Ele se levanta, o corpo ainda firme e atlético, apesar de seus 87 anos, acomoda o jornal numa lixeira e volta caminhando pela praia. A mesma praia de onde Rosa durante tantos anos o contemplou correr pela janela do carro.


Este texto é fruto do curso de escrita criativa Terapia da Palavra
http://www.terapiadapalavra.com.br/