sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Carolinas





- Menina, você não vai acreditar! Olha o que eu achei dentro do livro que acabei de comprar aqui no sebo enquanto te esperava!

- Não acredito! Uma foto do Pierre Chateau Blanc? Que coincidência!!

- Pois é, reconheci no ato. Ele bateu essa foto quando éramos namorados. Cansei de dormir no sofá esperando ele tratar as fotos dessa série.

- Você dormia, é, sua boba? Eu me sentava no colo dele enquanto ele trabalhava no computador, assim não rendia muito.

As Carolinas riem e se beijam. O garçom se aproxima, uma pede café irlandês, a outra, milk-shake.

Carolina tem a pele branca, cabelo bem preto, rosto delicado e meigo e um olhar que diz tudo. A voz às vezes treme, mas o que quer dizer sai forte e decidido. As mãos são bonitas, ela as ocupa com cigarros e com a escrita. É concentrada e culta, intensa, atraente e reservada. Me apaixonei por ela na sedução (proposital?) de uma simples frase: "onde devo me sentar?" na primeira vez em que nos encontramos. Entendi tudo naquele momento: ela é envolvente - pensei. Fiquei curiosa pra saber mais daquela menina passional que gostava de falar do amor e da verdade a qualquer preço.

E você, Carol! Você era um desconhecido. Carol, Carol... dizia repetidas vezes o seu nome. E duas vezes, éramos nós. Nós duas. Esse nome que quando descobri ser o mesmo que o meu, tive uma sensação que nunca vou saber explicar. Um pouco de dor, sim, mas um reconhecimento também. Como se não fosse em vão a repetição de um nome. Como se uma parte de mim estivesse misturada à sua quando, enfim, tive certeza: o nome dela é Carolina.

- Que graça, Carol! E a gente se digladiava no blog de fotos dele, você assinava: Carol enquanto eu insistia: Carolina. E assim criamos uma diferença entre nós duas. Por vezes ele me chamava de Carol. Eu ficava triste. Meu nome era Carolina. E, agora, tudo o que restou para mim daquele homem, foi a palavra Carol. Como é que pode? Não me reconheço mais naquele papel!

E se beijam, apaixonadas, as meninas Carolinas, ecoando entre elas essa repetição de nomes.

-  Meu amor, nada sobrou daquela época a não ser você.

- E pensar que sentimos ciúmes uma da outra, raiva, curiosidade de ver o rosto, de ver se alguma coisa a mais se repetia entre nós. Não, éramos diferentes. Duas imagens diferentes, o mesmo nome. O mesmo homem.

E riem desaforadas Carol e Carolina.

- Mas uma coisa ainda perdura, na maior parte das vezes não te compreendo, isso é verdade. Não sei bem aonde você quer ir, o que quer das palavras soltas, o que você deseja, Carol, sua arredia!

E riem de novo escancaradamente.

- Talvez nunca saibamos isso de ninguém. É segredo.

- Garçom, traz um profiteroles e duas colheres, por favor?

- Quer ficar com a foto pra você?

E gargalham debochadas as namoradas. 


*mais um texto fruto da oficina de escrita criativa, Terapia da Palavra