- Menina, você não vai acreditar! Olha o que eu achei dentro do livro
que acabei de comprar aqui no sebo enquanto te esperava!
- Não acredito! Uma foto do Pierre Chateau Blanc? Que coincidência!!
- Pois é, reconheci no ato. Ele bateu essa foto quando éramos namorados.
Cansei de dormir no sofá esperando ele tratar as fotos dessa série.
- Você dormia, é, sua boba? Eu me sentava no colo dele enquanto ele
trabalhava no computador, assim não rendia muito.
As Carolinas riem e se beijam. O garçom se aproxima, uma pede café
irlandês, a outra, milk-shake.
Carolina tem a pele branca, cabelo bem preto, rosto delicado e
meigo e um olhar que diz tudo. A voz às vezes treme, mas o que quer dizer
sai forte e decidido. As mãos são bonitas, ela as ocupa com cigarros
e com a escrita. É concentrada e culta, intensa, atraente e reservada. Me
apaixonei por ela na sedução (proposital?) de uma simples frase: "onde
devo me sentar?" na primeira vez em que nos encontramos. Entendi tudo
naquele momento: ela é envolvente - pensei. Fiquei curiosa pra saber mais
daquela menina passional que gostava de falar do amor e da verdade a qualquer
preço.
E você, Carol! Você era um desconhecido. Carol, Carol... dizia repetidas
vezes o seu nome. E duas vezes, éramos nós. Nós duas. Esse nome que quando
descobri ser o mesmo que o meu, tive uma sensação que nunca vou saber explicar.
Um pouco de dor, sim, mas um reconhecimento também. Como se não fosse em vão a
repetição de um nome. Como se uma parte de mim estivesse misturada à sua
quando, enfim, tive certeza: o nome dela é Carolina.
- Que graça, Carol! E a gente se digladiava no blog de fotos dele, você assinava: Carol enquanto eu insistia: Carolina. E assim criamos uma
diferença entre nós duas. Por vezes ele me chamava de Carol. Eu ficava triste.
Meu nome era Carolina. E, agora, tudo o que restou para mim daquele homem, foi
a palavra Carol. Como é que pode? Não me reconheço mais naquele papel!
E se beijam, apaixonadas, as meninas Carolinas, ecoando entre elas essa
repetição de nomes.
- Meu amor, nada sobrou daquela
época a não ser você.
- E pensar que sentimos ciúmes uma da outra, raiva, curiosidade de ver o
rosto, de ver se alguma coisa a mais se repetia entre nós. Não, éramos
diferentes. Duas imagens diferentes, o mesmo nome. O mesmo homem.
E riem desaforadas Carol e Carolina.
- Mas uma coisa ainda perdura, na maior parte das vezes não te compreendo, isso é verdade. Não sei bem aonde você quer ir, o que quer das palavras soltas, o que você deseja, Carol, sua arredia!
E riem de novo escancaradamente.
- Talvez nunca saibamos isso de ninguém. É segredo.
- Garçom, traz um profiteroles e duas colheres, por favor?
- Quer ficar com a foto pra você?
E gargalham debochadas as namoradas.
*mais um texto fruto da oficina de escrita criativa, Terapia da Palavra
*mais um texto fruto da oficina de escrita criativa, Terapia da Palavra