Caraíva, 7 de junho de 2009:
pro Jairo, que me pediu um capítulo de aniversário.
é terça-feira, mas acordo como se fosse domingo. cercada de coqueiros, cajueiros e flores que não sei o nome, desço os degraus feitos na duna de areia do La Caraiva Blu*. era de fato, terça-feira. a Socó já me esperava na beira do rio para comprarmos o que faltava dos ingredientes do nosso almoço de domingo. terça é nosso dia de folga e sempre mobilizamos a galera e bolamos algum programa diferente pra fazer. neste dia ele teria lugar no Varandão do Kuki. La Caraiva Blu é o nome da "propriedade" pra onde me mudei há dois meses. lá, somos vizinhas. são 4 casinhas de boneca, num terrenão com bancos de tronco no jardim. o vasinho de nossa mesa de jantar na varanda está sempre enfeitado com helicônias. e à noite, precisamos do auxílio de uma lanterna pra subir a duna. é lindo e faz muito silêncio porque a única coisa ao redor é a vendinha do Gilmar, que já não abre há tempos. a rua da janela do meu quarto, é onde os meninos cortam caminho pra escola, e todo mundo que passa por ali, eu reconheço a voz. como diz a Hermínia, aqui a gente sabe o nome até dos cachorros. por não ter forro no telhado, como todas as casas rústicas da vila, e por lá ser tão pacífico, aparece infinidade de insetos dentro de casa que nem sei o nome. e mesmo com mosquiteiro, prefiro dormir com uma luz acesa. continuo medrosa de bichos, apesar de! e na minha casa inteira são duas lâmpadas. a cozinha fica do lado de fora e existe pra saber que tenho uma cozinha. não uso já que tomo café, almoço e janto no Lagoa, minha outra casa. mas este daqui é pra contar a mais recente novidade: sou a nova professora do 2ºgrau!!! há 5 anos, Caraíva não tinha 2ºgrau e os meninos estavam todos sem estudar. um absurdo. ano passado batalhamos e conseguimos. porém saiu à distância. a duras penas, conseguimos um monitor, que é a Marina, quem me convidou pra dar as aulas de inglês. a escola fica em Nova Caraíva, porque a maioria dos alunos é de lá. o nome da escola é "Alegria do Saber". é precária como qualquer escola pública: quadro de giz, pintura descascando, quadras improvisadas e banheiro sem papel. só dou aulas às quartas. e pra chegar lá é todo um processo: atravessar de canoa e caminhar 1 km pela estrada de terra. sempre atravesso com os meninos daqui, eles mesmos remam. às 19h está todo mundo de livrinho debaixo do braço. é engraçado porque dou aula pros meus amigos e tem muita gente aqui que não estudava há 5, 10 anos. está chovendo muito estes dias e assim temos que ir de pé na canoa e de sombrinha. a Cineka, minha aluna linda, tem carro, mas quando ela falta, subimos e voltamos a pé. roots né!? adoro!!! faz parte. os meninos morrem de preguiça e falam que eu não me canso porque só vou uma vez na semana. eu sei bem porque não me canso. nunca cansamos do que a gente ama. o friozinho começou, mas eu ainda não abri minha mala de roupas de frio. outro dia passando na rua de blusa de alcinha e shorts, o Hilton de gorro e "capote" (casaco aqui) gritou: "rapaz, está querendo virar bahiana, é!?" ontem, sábado, os 31 alunos tiveram prova o dia inteiro e fui com a Marina de manhã para aplicar. subimos de carro mas resolvi voltar antes dela terminar. desci andando,estava sol, e vi o Maycon na padaria Felicidade. entrei pra tomar cafezinho com ele e feliz fiquei porque lá vendia marta-rocha!! que delíciaaaaa! quando fui pegar o porta-guardanapos, fui picada por uma abelha. doeu tanto que tive vontade de chorar. fiquei toda paralisada, parece que você fica com câimbra no corpo inteiro e o dedo dava três. não lembrava que picada de abelha doía assim. depois Macico chegou, vindo da prova e fomos embora os três juntos. cortamos caminho pela Barra e atolei até quase metade da perna na lama. os meninos ficaram "fazendo resinha" (rindo de mim na linguagem bahiana). e em seguida, o Tazinho atravessou a gente de canoa. a Barra estava maravilhosa!!! e vimos a Sophie aprendendo a zingar sozinha uma canoa. coisa mais linda! depois tinha feijoada beneficente no Pelé para arrecadar dinheiro pra festa junina. já olharam pro céu hoje? olhem!! é lua cheia. beijos da casa nova.
*o Guilherme é alguém muito especial ou o sortudo dono do La Caraiva Blu onde morei 3 meses antes de vir pro Rio. foi ele quem deu este nome, azul em italiano, pra dizer: tudo azul!! pra mim é muito mais, verde e azul!
Carolina,
ResponderExcluirparabéns, seu blog está lindo, lindo mesmo. Fiquei tocada com a beleza das figuras, da sua escrita (você escreve muito bem!) e da disposição do blog. Acho que você finalmente encontrou seu lugar ao sol, "literalmente", tanto vivendo perto do mar quanto escrevendo suas vivências. Será Colina Coralina um alter-ego???
Bjos,
Fernanda Machado
É de se emocionar o encantamento com essa vida escondida do tique-taque nervoso das grandes cidades. Seus textos de Caraíva parecem ficção. Que lugar é esse? Que ritmo de vida é esse? Será a paisagem ou sua imaginação? Um lugar perdido, escondidinho da agitação da vida dos centros urbanos. Gostoso de ler, de viajar junto com você. Bitoca, Amanda
ResponderExcluirnossa fino demais seu blog!! lindassooooo , gosteii!!
ResponderExcluirOi Carol, só pra retificar, quem deu o nome La Caraiva Blu foi o Ricardo, e foi ele quem mandou fazer a placa.
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