O hotel Glória era meu ponto de referência. Eu o avistava da curva e sabia que ali tinha que entrar. Quantas vezes virei à esquerda, passei por debaixo daquela passarela e atravessei a avenida, calçando tênis ou um par de havaianas, até dar de cara com o prédio terracota. Eu dizia que ia andar de bicicleta, mas o que eu ia fazer mesmo era exercício aeróbico corpo a corpo com ele. E com o top já molhado de suor eu tocava o interfone, emocionada pela vitória por mais uma vez ter dado certo e pelos próximos momentos de júbilo que a vida me guardava. Ele atendia, eu só ouvia o ruído do gancho e o portão abria sem eu ter que dizer uma palavra sequer. Se demorasse devia ser porque estava trabalhando. Então ele subia, me olhava meio tímido, me dava um beijo na boca já no corredor e descia as escadas levando minha bicicleta nos ombros. (…) Lá eu perdia infinitas vezes mais calorias do que se pedalasse até Niterói! Batizei de suor o chão e as paredes daquele escuro e aconchegante galpão. Não tinha ar condicionado, somente um ventilador de pé que resmungava as horas correndo quando tudo o que a gente queria era que elas congelassem. Era preciso tanta água que não dava tempo das garrafas esfriarem na geladeira.