quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sensações.




semana passada vi no cinema o filme novo do almodóvar, "los abrazos rotos" (em português "abraços partidos"). não sei se consigo explicar a sensação do que é você amar um diretor de cinema e ficar contando os dias para a estreia de um novo filme seu. de sentir o friozinho na barriga ali sentada na poltrona, da alegria mesmo, da deliciosa expectativa de ver as cores fortes dele em especial e de suas músicas começando na tela. do gozo que é desfrutar cada cena dele. suas cores, seu cenário, as roupas exageradas, o roteiro, as canções, tudo te invade, te enche, te completa. você só quer estar ali. você agradece. ai, é um consolo.

na dor pede-se bálsamo, na inquietação ou na ansiedade, o quê? uns tomam calmante, outros gritam no travesseiro, alguns precisam ir dar uma volta, ficar sozinhos, comer, encher a cara, sei lá! meu remédio sempre foi ir ao cinema. nas épocas de adolescência quando tinha prova de física, química que me deixavam tensa, eu corria pro cinema. na faculdade, em tempos tranquilos, quando podia pegar a sessão das duas da tarde, em dias de prova de psicofisiologia, neuroanatomia, que me queimavam todos os neurônios... para aquietar, cinema!! saía leve.

tem umas sensações que não queremos sentir. medo, por exemplo. medo do novo. como a sensação na sala de espera na primeira sessão de terapia. você pensa: ai, eu queria tanto estar no dentista! o medo de se expor te congela. medo de ouvir não. medo de chegar num lugar novo, vontade de ficar, de não ir. o medo quando passa pelo existencial, te move, faz bem. desadaptar-se, sair do quentinho, sempre gera desconforto, claro, mas acomodar de novo, ao novo, traz alívio. sensação boa de novo. o novo, o diferente.

só uma pausa, pode ser? outro dia, no meio de uma discussão me disseram isso: wim wenders e aprendenders. eu tive que me segurar pra não rir. adorei!!

esse impacto fulminante e divino que o cinema me causa vem também de bertolucci, woody allen, wim wenders, wong kar-wai... é tão básico, mas numa entrevista com david lynch, na pergunta do repórter sobre o que ele teria a dizer sobre os comentários de gente que diz que "não dá para entender nada dos seus filmes", ele responde (obviamente) mais ou menos assim: a história não interessa, o que importa pra mim é que o espectador desfrute de cada cena.

é isso.cinema pra mim é isso, conjunto de sensações muito bem-vindas.

o difícil é a arte de provocar esse deslumbre no espectador, da imagem de tocar, te envolver, te apaixonar. mas estes daí de cima conseguem com tanta facilidade... ¡OYE! almodóvar me pone la piel de gallina.