se naquele samba você dissesse
que eu tinha corpo de
bailarina.
se na fila do mercado
eu tivesse te notado,
e sendo a sua fila
mais rápida do que a minha,
você estivesse lá
fora e dissesse: ‘tava’ te esperando.
se você ousasse!
se você tivesse parado com seu calhambeque,
para trocar o pneu do
meu cadillac.
se me convidasse para
jantar
os peixes que pescou
durante o dia.
se você tivesse
topado o blind date.
se você se atrevesse!
se tivéssemos dividido uma maçã,
se eu fizesse parte
do seu show,
se me amasse, me
amassasse,
si hablaras español.
se me escrevesse uma canção,
se fosse mais
determinado
ou se quem sabe eu te
sorrisse!
ah, se eu te
facilitasse o caminho!
se você fizesse graça!
uma surpresa na caixa
de correio,
ou uma conchinha
debaixo da porta.
se fantasiado de
gorila pra chamar a minha atenção.
se tivesse dito que
me ensinava,
quando eu recusei o
convite
para dançar aquele
tango.
ah, se você
insistisse!
se tivesse me abraçado no táxi da volta,
e me lascasse um
beijo para ver passar o calor ou o frio
que eu disse que
estava sentindo.
se concordássemos em
gênero, número e grau.
ah, se eu fosse
valente!
se na ciclovia, bonito como é,
me pedisse uma
disputa.
se trocasse de
elevador só pra subir comigo,
se você me desse
alguma dica!
se pedisse
minha opinião pra ficar,
ou me dito pra
não ir,
me dado carona no
guarda-chuva,
ganhado no cassino e
me pedido pra casar.
se eu soubesse como
era fácil te agradar!
se tivesse jorrado
palavras ao vento elétrico dos bits
ou puxado minha mão,
menos tímido do que eu.
se tivesse me
arrastado, eu me deixava levar,
como alguém em
direção ao mar.
se você viesse com
conversa mole, e eu te desse mole.
ah, se!
só teria meu beijo
contido até te dizer que queria te beijar.
ou de nada valeria.
eu riria com você de
tudo no dia seguinte,
no chão,
tomando vinho
comprado no supermercado.