Vai me desculpar, mas caber em
míseros mil caracteres não combina comigo. Sou Monik Catherine, 25 anos fartamente
distribuídos em 1,72 m de altura já somados os 8 cm do salto alto. Minha figura
faz parar qualquer obra, o trânsito e o escambau. Até as mulheres viram-se,
admiradas, para me olhar, sou um escândalo tamanha formosura, falem mal, mas
falem de mim. Meus cabelos platinados, meus olhos caprichosamente maquiados e
minha boca cor de rosa choque fazem as pessoas prestarem atenção em cada sí-la-ba
que pronuncio chegando a fazer biquinho enquanto me ouvem falar em português
espalhafatoso. Sou mãe desde os 15 e minha filha Rianna mora com meus pais.
Porque meu pai não queria que eu deixasse de estudar e agora faço faculdade de
Letras na UFMG, isso mesmo que você ouviu, darling, não é qualquer
faculdadezinha não. Uma vez uma colega num trabalho em dupla em sala disse que
entregava o exercício para o professor, na verdade, eu soube depois, ela ficou constrangida de
corrigir meus tantos erros ortográficos, eu fui a da dupla que redigia, quando
terminamos ela disse: pode deixar, eu entrego. Levou o papel e reescreveu tudo.
Porque eu escrevi ‘alendo mais’, ao invés de além do mais, ‘Olanda’ e ‘Hirlanda’,
‘postila’ e ‘fenônemo’, ‘encima’ e ‘em baixo’. Soube depois que ela ficou
indignada de eu estar na Letras, como é que essa Monik passou na redação? -
dizia a torto e a direito pelas minhas costas. É que eu sou safa, e de repente
perdi a paciência para essa vida universitária que não acaba nunca. Há dias que
não vou à aula, me encontrei como vendedora de cosméticos, tenho sido
bem-sucedida, me converti numa vendedora de sucesso, o ofício aumentou minha
autoestima e me proporciona uma conta bancária cada dia mais popozuda que nem a
titular dela, euzinha aqui, beijinho no ombro. Tornei-me popular, tenho
mais de mil seguidores no Instagram, cada vídeo meu ensinando a fazer um olho
preto rende 5 mil visualizações. Depois que ganhei da empresa como
reconhecimento um I30 cor de rosa, Hyundai, minha querida, meu perfil no
Facebook estourou. Coloquei umas calotas bem brilhantes no carro e turbinei o
sistema de som, agora soube que dá multa, não importa, tenho dinheiro para
pagar. Ninguém me segura, não paro, sou esforçada, difícil não me notar. Dirijo
olhando no espelho, não me aguento, minha pele textura camurça pelo pancake,
meus cílios postiços, o perfume impregnado no cinto de segurança e os lábios
besuntados de gloss. Sempre arrumadíssima, cheirosíssima, gostosíssima! Não sei
escrever, é? Pois passei, meu bem, na UFMG! E vendendo maquiagem subi para
gerente, sou chefe, treino as meninas novas, tenho meu séquito, sou glamourosa,
copiada e até invejada, comprei meu apartamento e um carro para mim quando enjoei do
rosa. Viajo ao exterior, nunca tinha ido à Argentina, não tinha nem mala de
rodinhas. Agora cada viagem que faço preciso comprar uma nova para carregar tantos
presentes e pertences, pois agora meu hobby é usufruir. A faculdade tranquei, o
apartamento que comprei é na porta da frente dos meus pais, para poder ver minha filha
todos os dias. Olha que belezura, não se parece comigo? Tem meus olhos,
repare! Estou num relacionamento sério com o pai dela, mas tá difícil ser
fiel, é muito assédio, misericórdia! Este tem sido, sem sombra de dúvidas, o
melhor ano da minha vida, o ano da colheita. Axé!
*Este texto é fruto de um curso de escrita criativa, Terapia da Palavra, cuja tarefa tinha limite de1000 caracteres.