sexta-feira, 23 de maio de 2014

Ho Ho Ho, Ha Ha Ha






Eu tinha 8 anos quando descobri que Papai Noel não existia. Eu me senti tão adulta quando soube que cheguei eufórica em casa gritando para minhas irmãs a novidade. Vim do colégio trotando pela rua, entrei em casa pela porta dos fundos, passei correndo pela minha mãe lavando louça na pia da cozinha até chegar na sala, onde as gêmeas viam TV. Minha mãe conseguiu me deter em tempo de eu não completar a frase e matar, sem querer, um pouco da inocência das duas que nem sabiam ainda escrever seus sobrenomes.
Mas lá se foi meu encantamento por água abaixo. Minha mãe me explicou o porquê de não compartilhar com elas minha descoberta de um jeito que eu as invejei de não saberem a verdade. A professora da 2ª série devia ser muito infeliz para revelar aos alunos um disparate desses! Ela tinha o cabelo curto mal tingido de henna e nos contou, a seco e friamente, imóvel em sua cadeira, que Papai Noel era nossos pais.
À noite não quis jantar. Tomei um copo de leite frio com Nescau e fiquei brincando, sem gracinha que só, com minha Bibi-bo, a Barbie grega que meus pais haviam trazido para mim de uma viagem, em cima da mesa de centro da sala ao lado das minhas irmãs, que jogavam pega-varetas. Ela era linda, a boneca, com seu maiô dourado e sua bolsa, também dourada, que virava uma esteira de praia. Do tampo de vidro da mesa eu via a capa, agora menos mágica, do meu livro preferido, “Turma dos Sete”, que eu ganhara num… natal.
As salsinhas congeladas lá fora na horta, nós três ali de pijama de flanela, sendo eu a primogênita, a pioneira da prole a começar a perceber como a vida é dura.

(Este texto é fruto de um curso de  escrita criativa que estou fazendo: http://terapiadapalavra.com/)