quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Somebody that I used to know




 “desculpe-me, não te reconheci: eu mudei muito”.
Oscar Wild

tinha algumas cicatrizes - mordida de cachorro, queda de bicicleta, catapora... – quantos anos narrando sua pele! nem precisava me contar. o chapéu sobre o sofá, ele deitado ali ao meu lado. eu o observava timidamente, e desviava o olhar quando ele me pegava fitando-o com curioso deslumbramento. almejei que nunca perdesse o interesse por mim, que seguisse para sempre querendo saber de mim, lendo minhas reportagens pelo mundo, desejando-me alegrias. minha presença sempre ali, pulsando nele. desejei que aquela relação fosse próspera, mesmo daquele jeito, às avessas. refletido no espelho, contou-me que se sentia intensamente feliz. de mim só ouvia o silêncio exausto: eu sendo completamente eu, imaginando o reencontro com hora marcada (...) se você me vir andando na rua sorrindo ou distraída num banco de metrô, é meu pensamento ocupado destas tardes ao som de notas musicais.  
 
https://www.youtube.com/watch?v=8UVNT4wvIGY


terça-feira, 28 de maio de 2013

Candyland



“Candy asked me if she died if I could go on
Of course I said I couldn't and of course we knew that's wrong”


quando eu morrer você vai se lembrar de mim.
da minha dificuldade com a tecnologia
telefonando à noite pra me ensinar como colocar um filme
meus CDs arranhando
o vinil de Carmen que você nunca pôs pra eu ouvir.
das frases estrangeiras
do meu atraso matinal
os inúmeros livros inacabados
os fartos cafés da manhã de domingo
até da minha batelada de reclamações na cozinha
talvez você sinta
falta
do meu beijo na chegada
minhas barbeiragens
meu jeito sonso
dos tantos elogios que te deixavam sem graça
até da minha dificuldade de comunicação
talvez você sinta
falta
do meu sorriso de compreensão
meu jeito que você já conhecia
os doces que eu gostava
é bem capaz que você sinta
falta
do tato
das nossas fabulosas viagens e das que ficaram por vir
por falta de jeito
submissão
exagero
desperdício
efêmero.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Lapinha da Serra


Este texto mudou para o seguinte endereço:

 http://losamantespasajeros.wordpress.com/2013/09/28/lapinha-da-serra-mg-2/


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Concubina



co-participação de Mario Teixeira

Ele é musicista. Toca choro, samba, tango, cha-cha-chá... qualquer ritmo que você quiser que não seja num pandeiro! Ele mora não sei com quem, mas vive muito bem, eu soube, em seu segundo lar, uma orquestra. Ele é um talento e não tirou os olhos de você. Seu jeito misterioso, atento e dividido entre o par de pratos e a sua figura enquanto acompanhava “I Did It My Way”, te b-a-l-a-n-ç-o-u. E não foi por causa daquele blesq bom... ô balance balancê!

Você vai querer ter um caso com ele. E ele vai te mandar músicas diariamente, tocar na sala pela madrugada tudo que você queria. Você vai achar algo muito delicado e vai se apaixonar pela sua autenticidade. Mas vida, você já é comprometida e isso é uma novidade, esqueceu?

Não, você nunca soube dizer não.

Então você vai se jogar, porque é louca e está louca de curiosidade para ouvir o que ele tem para te dizer. E como ordenam os clássicos e discordam os sambas, vocês vão combinar. E você resolverá mudar de vida. É, nessa valsa você vai trocar de par. Depois, tudo a mesma coisa, mas numa outra companhia, um frescor no ar. Os amigos serão outros, e disso você gosta, de conhecer pessoas novas. Talvez mude um pouco o cardápio, algo diferente no jantar ou as cores das paredes e os programas de TV. Talvez até vocês tenham mais afinidades. Você vai ampliar seu background porque vai aprender as coisas novas que ele, tão erudito, te traz.

Tudo é finitude.

E logo alguém virá puxar sua orelha, perguntar: 'por que tão rápido?', te chamar de sanguinária. Vão dizer que você tenta preencher o vazio impetuosamente. Você vai se sentir culpada, se flagelar porque isso as pessoas que te querem não merecem, mas não vai mudar, porque a vida inteira tudo te chegou assim facilmente e sem se dar conta, seus caprichos te arrastam de um jeito assim, avassalador.

Ou você, não menos desmiolada, pode renunciar e sentir-se bem caretinha! Você vai escrever uma carta e recusar seu convite usando palavras bonitas. Dirá que adoraria passar o final de semana em sua companhia, e também a semana seguinte, “mas esta seria a parte que eu não sei se devia”. Você vai achar todos os motivos que te fariam ir e sentimentos que te fariam ficar, para depois saber que pôde e não soube aproveitar. Pode ser que ele não compreenda, e nem precisa, mas você vai honrar seus compromissos. Estes que você escolheu ter. E passará o dia cantarolando, “qué bonito sería tu mar si supiera yo nadar.”

E assim, hesitante, andando distraída pela rua, uma cigana te lerá a mão, e sábia, vai te descrever muito bem. Ela vai te comparar à figura da Concubina. Você não vai gostar, vai se ofender, mas depois se conformar porque sabe muito bem como se encaixa neste papel. Ela vai te desvendar, e você vai se tocar que seu jeito de agir é mesmo desapropriado. 

E não é que era exatamente o que você precisava se dar conta, afinal? Para então ir lá provar: doce, doce, doce.

 *foto do filme “L'Apollonide – Os amores da casa de tolerância”.


quinta-feira, 21 de junho de 2012


Para Coelhinho e Irmã-saltinho:


entediada com a paisagem repetitiva e com o relógio que caminhava lento, naquele trem ela recordava sua infância num país estrangeiro, em guerra. guerra esta que ela desconhecia, pela ingenuidade característica da idade. mas de ingênua não era para outras coisas. naquela época sabia muito bem da maldade de dedurar as irmãs para a mãe, quando elas por exemplo, faziam arte na escola. tinha duas irmãs gêmeas que frequentemente se juntavam contra ela e puxavam seu cabelo, seu ponto fraco. quando ela brigava com uma ou outra, vinha a dupla implacável. o par de monstrinhas treinava em casa e um dia em sala de aula, uma para defender a outra, puxou o cabelo da professora até o chão, a qual - para incrementar o grau de crueldade - quase não tinha cabelo. ela, a irmã mais velha, vendo as gêmeas através da janela do pátio de castigo, encurraladas na sala da diretora, sorriu mostrando os caninos e chegou em casa antes da notícia aos ouvidos da mãe. talvez porque tivesse bem vivo dentro de si um desejo constante de vingança. ou não, fazia-o de pura gaiatice! detalhou à mãe com detalhes sórdidos a batalha sangrenta das irmãs com a tia Jô, do emaranhado de cabelos da mestra entre os dedinhos frenéticos da irmã. a mãe atônita corre à escola deixando a pilha de roupas por passar, trazendo as gêmeas, dependuradas cada uma de uma orelha por todo percurso do colégio à soleira da porta de casa. as meninas não choravam, engoliam a seco a dignidade de sua feita e a honra pela batalha vencida contra a professora déspota. a irmã mais velha se deliciava, sentada na mesa da cozinha, com a gelatina em cubinhos e o circo de horrores à sua frente. a mãe que treme pouco, vem descompensada do banheiro onde largara as demoníacas no banho e agradece à filha mais velha por ter-lhe contado o ocorrido, enquanto recolhe o copinho raspado de gelatina da mesa. a mais velha, sentindo-se plena, sorriso escancarado na cara, vai para a sala desenhar e espera eufórica pela chegada do pai. num outro cômodo da casa a mãe termina de passar a roupa ao mesmo tempo que as gêmeas tomam banho de banheira, mudas e penosas de ficar sem sobremesa depois do jantar. é como diz o ditado: um dia da caça, outro do caçador.




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

S.I.M



para André.

pra você eu digo sim,
assim,
bem facinho,
meio impensável,
inevitável.

não é todo dia,
você fez do dia
a mais grandiosa lisonja!

pra você eu digo sim,
emocionada,
com pele arrepiada,
olhos marejados,
coração disparado.

não é pra qualquer um:
quero rotina de dois,
pintar paredes coloridas,
‘lava a louça
que eu estendo a roupa’.

pra você eu digo sim,
e me surpreendo comigo mesma,
valores tolos,
escoando pelo ralo.
com você eu encaro.

nem precisa mais abrir a porta,
eu tenho a chave.
‘vai fazendo o yakisoba
que eu boto a mesa’.
que dia vamos começar
aquela horta?

que baita prova de amor
é um pedido de casamento.
e querer a mesma coisa
num mesmo exato momento.

pode se gabar,
você exerce um poderzinho sobre mim.
eu te amo.
pra você é claro que é sim!


*foto byTulio Isaac

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Mi casa, su casa.



En el trayecto hacia el aeropuerto, no pudimos hablar, nosotras tan solo llorábamos. Ángela solía decir que yo era la hermana que no tuvo -  a los que no saben, tiene 3 hermanos varones: Carlete, Adol y Pablo. Y sí, fuimos como hermanas durante los 9 meses que vivimos juntas: yo, ella, Lourdes y la Mujer de Blanco, ¿te acuerdas, Luli?, en su preciosa casa en los Montes de Málaga. Yo había ido a España a estudiar español y cuidaba a Lourdes, su hija, entonces con 2 y luego 3 añitos, una niña muy presumida a quien le encantaba ponerse tacones y un vestido de gitana con muchos volantes,¡supermona!

Los que me conocen bien, seguro que ya oyeron hablar de Ángela, no por la foto que tengo suya con Luli en mi casa, (arriba) pero por haber sido la protagonista de mi maravillosa experiencia en España.
Ángela me prestaba sus ropas, su coche y su plancha para el pelo. Le regalé un compact de Jarabe de Palo (ver video abajo) cuando me fui y ella compró regalos a todos de mi familia. Habían más regalos en mi maleta que ropas. Y cuando ya estaba en Brasil, me mandó por los correos, uno de los mejores ingenios españoles:¡una fregona!Desde el salón, mientras veía con Luli, Blancanieves, su peli favorita, me gustaba adivinar con qué medias iba a bajar las escaleras, un abanico de variedades que ella desfilaba cada noche que iba de marcha. Siempre que salía de juerga lo hacía ¡a lo grande!

Con ella aprendí a cocinar albóndigas, echar vino tinto en las salsas, hacer gazpacho y me convertí en una adicta a la nutela. Me encantaba cuando le antojaba desayunar churros con chocolate y bajaba temprano en su coche a por ellos. Era tan rica la mermelada de fresa que su padre, Carlos, hacía, y también los boquerones al escabeche. Y qué gustito era cuando su madre, Mariángeles, la estupenda abueli de Luli, nos llamaba para decir: “¡Bajad, guapas. He hecho paella!” ¡Qué bien lo pasábamos! Me acuerdo de Ángela contando los billetes para pagar al hombre del camión de agua y del verano cuando por fin llenamos la piscina.
Lourdes, en el comienzo, no podía pronunciar mi nombre, muy largo para una niña tan chica, así que me decía Colina. La gente pensaba, qué mono, pero yo insistía para que me llamara C-a-r-o-l-i-n-a, con todas las letras. Luego aprendió a llamarme Coralina y un par de días antes de que me fuera, me dijo: ¡Carolina! Me puse la piel de gallina y aquel día me hizo mucha ilusión que me volviera a decir ‘Colina’.

En mi fiesta de despedida en "nuestra" casa, hizo pinchitos y llenamos la pisci de globos. Me dejó que invitara a todos mis amigos ‘guiris’, que se juntaron a los suyos, en una gran fiesta andaluza con mucha caipirinha, ya que alguien consiguió “maracujá” y una botella de 51 en el Corte Inglés. Ángela sugerió que me tiraran a la piscina con los zapatos encima y al final, terminamos todos chorreando.
Fueron días muy felices, Ángela me hacía sentir muy a gusto allí y es por eso que de ella me llevo los mejores y más dulces recuerdos de Málaga.

Aunque mi sueño de ahorrar dinero para un viaje a España y imaginarme llegando a su casa, se murió ayer... ¿sabes qué?, estoy muy contenta por haberte conocido. Les doy las gracias sobre todo a Camilo y Hernán que me pusieron en sua vida, y viceversa.

Para Ángela, muita saudade y una canción:
http://www.youtube.com/watch?v=xxhET61yB1A&ob=av2e


foto: Yo en su casa en los montes con Atila, el perrito de Lourdes. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Se








se naquele samba você dissesse
que eu tinha corpo de bailarina.
se na fila do mercado eu tivesse te notado,
e sendo a sua fila mais rápida do que a minha,
você estivesse lá fora e dissesse: ‘tava’ te esperando.
se você ousasse!


se você tivesse parado com seu calhambeque,
para trocar o pneu do meu cadillac.
se me convidasse para jantar
os peixes que pescou durante o dia.
se você tivesse topado o blind date.
se você se atrevesse!


se tivéssemos dividido uma maçã,
se eu fizesse parte do seu show,
se me amasse, me amassasse,
si hablaras español.


se me escrevesse uma canção,
se fosse mais determinado
ou se quem sabe eu te sorrisse!
ah, se eu te facilitasse o caminho!


se você fizesse graça!
uma surpresa na caixa de correio,
ou uma conchinha debaixo da porta.
se fantasiado de gorila pra chamar a minha atenção.
se tivesse dito que me ensinava,
quando eu recusei o convite
para dançar aquele tango.
ah, se você insistisse!


se tivesse me abraçado no táxi da volta,
e me lascasse um beijo para ver passar o calor ou o frio
que eu disse que estava sentindo.
se concordássemos em gênero, número e grau.
ah, se eu fosse valente!


se na ciclovia, bonito como é,
me pedisse uma disputa.
se trocasse de elevador só pra subir comigo,
se você me desse alguma dica!
se pedisse minha opinião pra ficar,
ou me dito pra não ir,
me dado carona no guarda-chuva,
ganhado no cassino e me pedido pra casar.
se eu soubesse como era fácil te agradar!

se tivesse jorrado palavras ao vento elétrico dos bits
ou puxado minha mão, menos tímido do que eu.
se tivesse me arrastado, eu me deixava levar,
como alguém em direção ao mar.

se você viesse com conversa mole, e eu te desse mole.
ah, se!
só teria meu beijo contido até te dizer que queria te beijar.
ou de nada valeria.
eu riria com você de tudo no dia seguinte,
no chão,
tomando vinho comprado no supermercado.





segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Folie à Deux



Head on the ground:
“Trabalho nos bastidores da vida”, era o que costumava dizer. a psiquiatria era o lugar de onde você explicava e enxergava o mundo.  dizia ouvir coisas que um não pagaria pra ver. desde criança queria ser útil, ter uma profissão que salvasse o mundo. você tinha talento para tratar com gente, empatia para escutar suas mazelas e ouvido apurado para notar as singularidades de quem fosse. era perceptivo, observador e sagaz para intervir. um sucesso de menino! e muito gostoso, muito.

Feet on the air:
Curava lá fora e desconcertava aqui dentro.

Where´s my mind?
Fora deste universo, não menos complexo, você pensava alto em alguém que gostasse de caminhar na chuva, assim como você, aqui em Paris, sua cidade natal, onde seus pés estão bem fincados há 30 e poucos anos. e essa é a parte da história onde eu entro, distraída, assoviando dó ré mi sol e sem querer saio do palco, ensopada de chuva, e no caminho perco um parafuso, e no descaminho dou na sua porta, que você imediatamente abre, fascinado pelo meu jeito, meu sotaque, minha audácia e pelas cartas que um dia eu pudesse te escrever. você também está gotejando, tiritando de frio, você diz: “acabo de chegar!” e conversa amenidades, como se não fôssemos íntimos. e somos? logo saberia, a convivência nos aproximaria. e assim, como sol lá si dó, me meto desconfiada nestes bastidores e uma vez lá dentro me transformo em fantoche manipulada à sua revelia. neste esconderijo atemporal se desenrola a nossa história, folie à deux, pano de fundo para que a nossa existência, farta de frases desconexas, delirium tremens e erotomania, se dê. que paradoxo, tanta loucura, mas é tão confortável aqui. não, doutor, não me receite psicotrópicos, estou perturbada, mas é normal, minha confusão sobre qual sinal pendurar naquela porta não é descabida: ‘don´t disturb’? ‘you´re welcome’? não se preocupe, você diz: "eu quero um a um com você", while I ask myself: "where´s my mind?" não tenho escolha, don´t stop. morro de paixão quando me enrosco contigo.


https://www.youtube.com/watch?v=GfcW_cPDCHo