Me
desculpem, mas eu peguei um avião. Estava com muita saudade. Tenho uma
relação afetiva com aeroportos: desde a infância, por anos, voando
Bagdá-Rio. Estaria contagiada pela felicidade da minha mãe? Eu gostava
do cheiro de cigarro no ar condicionado, do barulho do salto alto das
mulheres elegantes tocando o assoalho brilhante, tão brilhante quanto os
olhos maquiados das arabicas. Uma delas apertou
com tanta vontade as bochechas da minha melhor amiga loira de olhos
azuis, que a marca das unhas em sua pele rosada foi junto a bordo.
Trabalho para viajar, senão nem me daria ao trabalho, viveria de bicos.
Me senti mal viajando na pandemia, mas o prazer de ver as nuvens me
trouxe novamente à vida. Estava precisando.
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