“O verdadeiro amor não morre, descansa.”
Há um homem sentado no banco da
praça lendo um jornal aberto na seção de obituários. Já faz anos que Homero tem
esta mania. Que nem minha avó Rosa, que pedia para guardar os jornais só para
se dedicar à leitura de quem morreu.
O Homero, este que lê o jornal no
banco de uma praça do Rio de Janeiro, foi o grande amor de minha avó. É
provável que ele não tenha tido conhecimento do obituário dela, pois não lê o
“Estado de Minas”. Será que soube?
Homero se lembra de quando
conheceu Rosa, aquela mãe charmosa e elegante, destoando das outras, à espera
no portão da escola, que ele observava diariamente pela janela do carro
enquanto também aguardava seus filhos saírem.
Rosa tentou falar com ele uma
última vez, em vão, quando a irmã atendeu ao telefone e ordenou, quase
gritando, que ela não ligasse nunca mais. Será que Homero soube?
Ele se levanta, o corpo ainda
firme e atlético, apesar de seus 87 anos, acomoda o jornal numa lixeira e volta
caminhando pela praia. A mesma praia de onde Rosa durante tantos anos o contemplou
correr pela janela do carro.
Este texto é fruto do curso de escrita criativa Terapia da Palavra
http://www.terapiadapalavra.com.br/
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