quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

amores risíveis



no carnaval é que se percebe, mais ainda, a fragilidade/superficialidade dos laços humanos, ou melhor dizendo, de como estreitamos laços frouxos porque a maioria não sabe mais manter laços a longo prazo. a velocidade de apaixonar-se é a mesma para desapaixonar-se.

a paixão aqui é desfrutar coisas novas e diferentes. é consumo e descarte. da sensação de sede desatada de que o próximo ‘amor’ será uma experiência ainda mais estimulante (do que a atual). pois são inúmeras as possibilidades românticas que surgem e desaparecem numa velocidade crescente e em volume cada vez maior. olha a abundância (foto) e a evidente disponibilidade aíiíííí gente!! pra depois... descartar. ah! o prazer por não se implicar!

não pense você que estou aqui censurando. a questão é: você agüenta?
diz aí, você agüenta mesmo?

disse Bauman: “é uma cultura consumista como a nossa que favorece o produto pronto e imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea (...) a experiência amorosa à semelhança de outras mercadorias, que fascinam, seduzem (...)e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço.”

pr´alguns a abertura tem a aparência de um precipício. como na marchinha de carnaval, rá, disso eu até acho graça! quem já não viveu tal situação? nesse caso, compromisso é a armadilha a ser evitada no esforço de relacionar-se. para se ter o prazer do convívio e evitar os horrores (eu disse h-o-r-r-o-r-e-s) da clausura, a receita é: satisfazer sem oprimir. quer se relacionar? então mantenha distância! quer curtir um convívio? então não assuma nem exija compromisso. e sempre, deixe as portas abertas.

é o desejo quem rege a atualidade consumista. e “desejo é vontade de consumir, absorver, devorar, ingerir, digerir, aniquilar, provar, explorar, tornar familiar e domesticar”. o desejo, diga-se de passagem, não espera, é impulsivo e insaciável. o desejo quer consumir, o amor quer possuir. e possuir dá um trabalho!

esta atualidade consumista (ou nossa mente imediatista?), pensando bem, é bem imatura. me remete ao princípio do prazer de Freud, que existe láááá na infância. já pensou nisso?


by the way, deixo o link pro blog da minha amiga Ju que fez uma reflexão sobre meu amores rizíveis. adorei, juju!! http://talecoisa.blog.terra.com.br/2010/02/24/volatil-amor-reflexao-de-amores-riziveis/

e também uma crônica de Stella Florence: http://itodas.uol.com.br/amor-e-sexo/naufrago

7 comentários:

  1. Carol,
    Gostei tanto da sua cronica que ela me inspirou a um post resposta com outras reflexões...
    BJOCAS!

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  2. carol,
    esse é o tema da minha dissertação!
    e te dou uma resposta: eu não dei conta desse mundo do desejo sem fim porque angustiei demais. foi um horror! então, por sorte do destino e do acaso, encontrei um amor e fiquei no quentinho! a angústia continua, bien sur, mas é tão mais gostoso!!!!!!!!!!!!!

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  3. manter laços a longo prazo é difícil pra nossa geração. não é certo nem errado, nem bom nem ruim em absoluto, ainda que bom e ruim ao mesmo tempo. tem algo de aprisionador mas também tem uma dimensão de emancipação nisso. e introduz uma reflexão que não havia antes, que é difícil, mas que deixa ao gosto do freguês a combinação de consumos e renúncias, descartes e aprofundamentos que se quer ter. a fragilidade dos relacionamentos nem sempre é ruim, não. pode ser realista também.

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  4. saudades nega.. seu blog é lindo! e sua vida maravilhosa! Fico feliz..

    Bjao

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  5. Bendito seja este viver tão variado.
    Beijos Tia Ju

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  6. Zygmunt Bauman, esse sociólogo tira qualquer um do lugar cômodo, com sua absorvente teoria do amor líquido. Fantástica é sua análise da ansiedade moderna, que é uma atualização do Mal-estar da civilização, de Freud. Antigamente, todo mundo abria mão dos próprios desejos em nome da segurança, do bem-estar coletivo. Hoje, a lógica é a inversa, a gente faz tudo o que quer, sem criar laços de responsabilidade com ninguém, total individualização. E o que acontece? Não há certeza de nada, amanhã tudo muda, e somos invadidos de insegurança e ansiedade. Com certeza, o carnaval ilustra bem o assunto. Viva a liberdade, com todas as suas novidades, mas se paga o preço. Bitoca, Amanda

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